segunda-feira, 28 de março, 2022

Indústria revê processos para ampliar agenda ESG

Na indústria, a escalada da pauta ESG — de impacto ambiental, social e de governança corporativa, na sigla em inglês — vem acelerando a expansão e implementação de projetos e soluções de preservação e redução do desperdício de água, a reboque do olhar criterioso de investidores.
Os pilares do ESG se tornaram tradução da qualidade da liderança de uma empresa. Na questão da água, reduzir consumo, reaproveitar, tudo isso é o básico. E tem de continuar a ser feito. É preciso subir o nível de soluções desenhadas. Não há cidade viável sem projeto de gestão de recursos hídricos robusto — afirma Nelmara Arbex, sócia de consultoria em ESG da KPMG.
A Unilever, multinacional britânica dona de marcas como Knorr e OMO, bateu em 2018, dois anos antes do previsto, a meta de reduzir em 40% a extração de água em suas fábricas globalmente. Em 2020, esse corte chegou a 49% do consumo de água por tonelada produzida.
No Brasil, o resultado foi superior, com recuo de 54% em dez anos. Agora, a companhia persegue as metas traçadas para 2030.
"As metas relativas à água visam transformar as fórmulas dos produtos para que sejam 100% biodegradáveis e ter em suas fábricas um aumento de 25% na circularidade de água, o que significa reaproveitar a água das estações de tratamento de efluentes e não descartá-la em corpos hídricos", diz Marina Yoko, gerente de Segurança do Trabalho e Meio Ambiente da Unilever Brasil.
- Redução de custos
A formulação dos produtos foi revisada com o mesmo foco, explica ela, que cita como exemplo a redução de 39% no volume de água usada para produzir a nova fórmula do OMO. Marina ressalta que a água que volta para a natureza retorna mais limpa que a captada para produção. Além de sustentabilidade e impacto positivo ao meio ambiente, isso traz redução de custo.
"Temos um problema de longa data de infraestrutura, já que alguns estudos mostram que se perde, em boa medida por vazamentos, de 30% a 40% da água que é tratada. Isso significa desperdício não só de água, mas da energia no processo de tratamento e distribuição", sublinha Setter, do Insper Metricis.
- Avanço em outros setores da economia
O tema ESG também é pauta de Conselhos de outros segmentos da economia. O Grupo Boticário, por exemplo, com sede no Paraná, estabeleceu um conjunto de 16 compromissos em sustentabilidade a serem cumpridos até 2030, sendo quatro deles relacionados a água. O primeiro é zerar o balanço hídrico das duas fábricas, localizadas em São José dos Pinhais (PR) e em Camaçari (BA).
Isso significa fazer com que toda a água captada seja usada e reutilizada dentro do grupo. Hoje, um quarto da água que entra nessas instalações recircula em áreas como limpeza, jardins e outras. Os efluentes passam por tratamento.
Outra meta é que os fornecedores integrem o compromisso, tendo 50% do volume de água que captam em suas empresas sem gerar efluentes até 2030.
"Não adianta sermos ecoeficientes se não incluirmos nossos fornecedores. O Boticário é um grande player. Qualquer política adotada por nós tem um grande efeito, e queremos levar os fornecedores junto", destaca Guilherme Karam, gerente de Economia da Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário.
Os ajustes estão também na fábrica. Os produtos enxaguáveis estão sendo ajustados para zerarem o impacto ao meio ambiente, havendo mapeamento para substituição de insumos desses itens.
- Revitalização de bacias
A Engie, empresa privada do setor de energia, mantém um programa de conservação de nascentes há 12 anos, tendo colaborado para a proteção de 2.100 nascentes localizadas na área de influência de 14 usinas operadas pela companhia. Em 2021, ingressou no Programa Águas Brasileiras, criado pelo Ministério do Desenvolvimento Regional.
O projeto busca revitalizar bacias hidrográficas como as dos rios São Francisco, Parnaíba e Tocantins-Araguaia para aumentar a quantidade e a qualidade da água ofertada ao setor produtivo e para consumo em geral.
José Geraldo Setter, professor e coordenador executivo do Insper Metricis, chama atenção para a indissociabilidade entre água e geração de energia no país:
"Uma racionalização no uso da água já traria como reflexo a redução no consumo de energia. Novas tecnologias têm sempre o papel de desenvolver processos mais eficientes no uso de ambos os recursos. Na Engie, que já atua em geração de energia e persegue a meta de reduzir em 35% o consumo de água até 2030, há ações também do lado social para água. Em uma delas, no baixo Madeira, em Porto Velho, onde fica a Hidrelétrica de Jirau, a empresa trabalhou em parceria com a estatal de água e esgoto de Rondônia (Caerd) para implementar a rede de distribuição de água, beneficiando mais de 300 famílias."
"É um processo de transformação que garante perenidade sustentável, resiliência e gestão dos riscos sociais, ambientais e de governança. Queremos garantir que nossas atividades também potencializem ganhos ao meio ambiente", diz Gil Maranhão, diretor de Comunicação e Responsabilidade Social Corporativa da Engie Brasil, em relação ao ESG.
https://www.superhiper.com.br/industria-reve-processos-para-ampliar-agenda-esg/ Super Hiper - 24/03/2022
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