sexta-feira, 03 de fevereiro, 2017

Indústrias de bicicletas miram nicho de maior valor agregado

São Paulo - Mesmo com a crise, o segmento de bicicletas de alto valor agregado tem crescido acima do mercado. Para 2017, fabricantes apostam em modelos de nicho, com foco em consumidores que querem desempenho e design e estão dispostos a pagar mais por isso.
As bicicletas da marca Sense, por exemplo, custam a partir de R$ 2,99 mil e ultrapassam a casa dos R$ 22 mil. "Nosso produto não é uma necessidade, é mais um desejo mesmo", explica o responsável pela gestão comercial e marketing da empresa, Frederico Pessoa.
Apesar do preço elevado em comparação às bicicletas vendidas no chamado segmento "magazine", o executivo garante que os produtos da marca atendem não só a um apelo estético, mas também funcional.
"Houve um amadurecimento do consumidor em relação à compra da bicicleta. Hoje, o brasileiro busca menos preço e mais qualidade", avalia.
De acordo com o diretor executivo da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo), José Eduardo Gonçalves, o perfil do consumidor brasileiro está mudando. "Há cerca de dez anos, o brasileiro queria um produto mais barato, geralmente com uma marcha só. Hoje, a busca por produtos de maior valor agregado tem crescido", observa o dirigente.
Diante da crise econômica, no ano passado a produção de bicicletas no Polo Industrial de Manaus (PIM) recuou 11,5% em relação a 2015, para 669,72 mil unidades. As fabricantes da Zona Franca representam cerca de 48% do mercado nacional. "[Mas] o Brasil tem inúmeros fabricantes, inclusive bike shops, que também montam bicicletas", pontua Gonçalves.
Neste cenário recessivo, porém, a Sense conseguiu obter crescimento. "Aumentamos a produção em 2016 e quase triplicamos as vendas no período. Sofremos menos com a crise porque o nosso produto é mais de nicho", justifica Pessoa.
No ano passado, a empresa comercializou 15,99 mil unidades. Para 2017, a projeção é dobrar as vendas. "Ampliamos as versões dentro de cada modelo para ganhar market share."
Bike shops
A Isapa produz bicicletas para terceiros, como Carrefour e Decathlon, mas a maior rentabilidade de seus produtos vem mesmo das duas linhas próprias: a Ox e a Oggi.
"Atingimos quase todos os públicos, mas nossos produtos são mais direcionados para as chamadas bike shops", declara o diretor da Isapa, Daniel Douek. Em 2016, o grupo produziu uma média mensal de 5 mil unidades. Para este ano, a previsão é atingir 6 mil unidades por mês. "O mercado deve apresentar expansão em 2017, mas nós vamos fortalecer as nossas marcas e crescer acima da média do setor", assegura.
Douek salienta que o mercado de bicicletas tende a sofrer menos. "A conjuntura econômica e política impactou o País, mas nós tivemos um ano surpreendentemente bom."
Pessoa, da Sense, destaca que o Brasil tem um grande potencial no setor. "Estamos entre os maiores mercados do mundo e temos tecnologia e know-how para competir igualmente com players globais", pondera.
Douek analisa, entretanto, que os estímulos ao uso da bicicleta - principalmente com a implantação de ciclofaixas em grandes capitais do País - devem surtir mais efeito no longo prazo. "Apesar de ser um ganho para o setor, não sentimos um aumento significativo das vendas por conta dessas políticas."
Já o diretor da Sense acredita que o aumento das ciclofaixas pelo País afora fomenta a cultura da bicicleta. "As pessoas estão buscando alternativas de mobilidade e a bike se encaixa perfeitamente nesse anseio", pontua.
Gonçalves, da Abraciclo, pontua que os fabricantes da Zona Franca investiram quase R$ 300 milhões nos últimos três anos em suas operações. "Os aportes destas empresas estão maturando e, para, 2017, as fábricas vão trabalhar a plena carga", diz. A projeção da entidade é que a produção das associadas cresça 19% neste ano. "Cada marca tem sua estratégia, mas as empresas estão trabalhando muito para aumentar os volumes", acrescenta o dirigente.
Ele acredita que a tendência para a economia brasileira é de estabilidade, apesar de o cenário inspirar cuidados. "O brasileiro ainda está com receio de consumir. Mas em 2017 o consumidor deve se sentir mais seguro para comprar", considera.
Douek, da Isapa, acrescenta que a valorização do dólar tem dificultado as importações no setor. "A entrada de bicicletas no País tem diminuído substancialmente nos últimos anos", informa. "Além disso, o imposto de importação para bicicletas montadas é alto", comenta.
Como parte da estratégia para continuar crescendo, a Sense deve ampliar a oferta de produtos, que hoje basicamente se resumem aos segmentos de bicicletas de alumínio, carbono e elétricas. "Vamos lançar mais produtos e entrar em novas categorias", revela Pessoa.
Ele afirma que, com o aumento da concorrência em todos os segmentos dessa indústria, a aposta da empresa será de diversificação. "Possivelmente entraremos em faixas mais baratas também", complementa.
Já o diretor da Isapa acredita que as bicicletas da companhia têm caído no gosto do consumidor. "Temos um bom custo-benefício e o público que consome nesse setor tem aderido aos nossos produtos", diz Douek.
Apesar de preocupado com o cenário, o executivo se diz otimista. "O mercado brasileiro tem potencial e espaço para todo mundo", analisa.
DCI - 03/02/2017
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