sexta-feira, 03 de junho, 2016

Festa junina mais cara: escassez de milho prejudica a produção de pamonhas

Os meses de junho e julho são marcados pelas festas juninas em diferentes regiões do Brasil e atraem milhares de apreciadores das comidas, músicas e trajes típicos do evento. Porém, neste ano, os frequentadores dessas festas devem se preparar para gastar mais. Isso porque a oferta de milho, que é o principal ingrediente de muitos pratos das festas juninas, está restrita neste ano. Lavouras de milho foram castigadas por seca, principalmente em Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso. A produção deverá recuar, enquanto os preços do produto registram recorde.

Quem está acostumado a produzir quitutes típicos das festas juninas já constatou que os preços subiram. Valdemir Assarisse proprietário da Fábrica di Pamonha, utiliza cerca de 25 toneladas de milho verde por mês na produção de pamonha, curau, suco de milho, bolos e biscoitos que são vendidos em um loja em Piracicaba (SP). A pamonha lidera as vendas da loja, com cerca de 30 mil unidades comercializadas por mês nesta época do ano.

A fabricação de pamonha e de curau, cujas receitas levam apenas milho, açúcar e água, é a mais afetada pela menor oferta da matéria-prima. Cada pamonha, que era vendida por R$ 2 em junho do ano passado, agora tem preço de R$ 2,50. O curau, em embalagem de 800 gramas, que valia R$ 4,50 em 2015, neste ano é vendido por R$ 5. “Todos os produtos tiveram um aumento de custo de 12% a 14%”, diz Assarisse. “Vai faltar pamonha em muitas festas. Já estou com novos clientes que outro fornecedor não conseguiu atender.”

Lavoura prejudicada
Assarisse, que produz a matéria-prima numa propriedade rural de 80 hectares em Charqueada (SP), conta que a estiagem registrada em abril prejudicou a lavoura. “O florescimento do milho foi prejudicado. Além da falta de água tivemos mais problemas com pragas”, diz o produtor. “Também precisamos irrigar a plantação e o custo da energia elétrica aumentou.”

Em média, Assarisse produz 45 toneladas de milho verde por mês, um volume suficiente para abastecer a sua fábrica e vender o excedente da produção. Porém, com a seca, no mês de maio foram colhidas apenas 20 toneladas de milho. O empresário passou de vendedor a comprador da matéria-prima. “O milho está em falta”, diz Assarisse. “Os produtos podem ficar mais caros, essa é a inflação da pamonha.”

Alternativas para manter o negócio
Outra empresa que está lidando com a crise da oferta de milho é o Buffet Efraim, especializado na organização de festas juninas, localizado em São Paulo. Na comparação com os outros meses do ano, o número de eventos atendidos pela empresa sobe de cinco para 40 em junho e julho. Justamente na temporada da festas juninas, William Washington Adão, sócio-proprietário do buffet, constatou que está mais caro preparar esse tipo de evento, com um aumento entre 7,5% e 8,5% no custo total da festa.

Para não repassar de imediato o aumento de custo aos clientes, o Buffet Efraim pretende focar em outros detalhes do evento. A estratégia é oferecer mais opções de jogos e ampliar a decoração das festas para gerar um lucro adicional que compense o aumento das despesas com as comidas típicas. “Os nossos clientes não abrem mãos das festas juninas e das receitas derivadas do milho”, afirma ele. “Então aumentamos a gama do cardápio para o cliente ter mais opções de escolha e alavancar o nosso tíquete médio”, diz o proprietário.

O aumento dos preços do milho verde
Se comparado com os primeiros quatro meses de 2015, o volume de milho verde recebido pelo Entreposto Terminal São Paulo da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) vem apresentando queda. Entre janeiro e abril deste ano foram 15,2 milhões de toneladas, enquanto no mesmo período do ano anterior foram 18,6 milhões de toneladas.

Os preços do milho verde também estão mais altos em 2016, segundo dados da Seção de Economia e Desenvolvimento da Ceagesp. A média mensal entre janeiro e abril de 2016 ficou em R$ 0,79 por quilo do produto. No mesmo período do ano anterior, a média era de R$ 0,67. Em janeiro do ano passado, o quilo do produto custava R$ 0,61 e no mesmo período de 2016 foi comercializado a R$ 0,88. Os meses de fevereiro e março também apresentaram alta, somente em abril o valor voltou a ser inferior ao mesmo período do ano interior, com o quilo vendido por R$ 0,73, enquanto em 2015 foi cotado a R$ 0,82.

Crise no campo
Quando se trata da produção de milho em grãos, a escassez da oferta é mais grave. A ausência de chuvas no mês de abril nas principais regiões brasileiras produtoras de milho tem prejudicado a segunda safra do cereal. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a expectativa é de uma produção de 52,9 milhões de toneladas de milho segunda safra, 3,1% a menos que as 54,6 milhões de toneladas colhidas no mesmo período de 2015.

A oferta de milho está restrita e a crise no abastecimento prejudica principalmente os produtores de aves e suínos, que dependem do milho para alimentar esses animais. Para suprir a falta de milho em algumas regiões, a Conab vai vender 160 mil toneladas de milho dos estoques públicos do grão. O volume será comercializado pelo Programa de Vendas em Balcão com o objetivo de abastecer, principalmente, Estados do Sul e Nordeste.

Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), os valores do milho em grão estão em alta no mercado brasileiro. Na sexta-feira (27/05), o Indicador ESALQ/BM&FBovespa (Campinas – SP) fechou a R$ 52,97 por saca de 60 quilos, aumento de 8,9% frente ao encerramento de abril.
UOL
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