quinta-feira, 25 de fevereiro, 2016

Aumento da oferta tende a interromper alta do milho

A expectativa de que a China despeje no mercado grandes volumes de milho de seus estoques e a aproximação do início do plantio da nova safra americana tendem a reforçar o cenário de oferta abundante e frear a recente reação das cotações do grão na bolsa de Chicago, principalmente se não houver nenhum sobressalto climático. Ainda que os preços no Brasil permaneçam muito ligados ao câmbio, a tendência internacional poderá conter a trajetória ascendente que tem reduzido as margens dos frigoríficos de aves e suínos.
"Podemos ter repiques. Mas, na medida em que se confirme o aumento de área nos EUA e o clima ajudar o plantio, a partir de julho o milho tende a entrar em fase acelerada de baixa, não só rompendo os US$ 3,20 por bushel [em Chicago], mas se aproximando dos US$ 3", prevê Pedro Dejneka, da consultoria AGR Brasil. Até o início desta semana, os contratos futuros de segunda posição de entrega do grão acumulavam alta de 2% na bolsa de Chicago este ano. Porém, quedas nas últimas duas sessões, para US$ 3,6450 por bushel, já deixaram as cotações estáveis em relação ao fim de 2015.
Contribuíram para a valorização neste início de ano os estoques menores que o esperado nos EUA em 1º de dezembro. A ligeira recuperação das cotações do petróleo também passou a oferecer algum suporte ao milho, já que incentiva refinarias americanas a aumentar a mistura de combustíveis alternativos, como o etanol de milho, na gasolina.
Segundo Stefan Tomkiw, analista do Société Générale em Nova York, as estimativas atuais sugerem que os americanos vão semear nesta temporada 36,3 milhões de hectares com milho, ante os 35,6 milhões de 2015/16. "Acho que o patamar de US$ 3 a US$ 3,10 por bushel seria um piso num primeiro momento".
O início da semeadura de milho nos EUA, no próximo mês de abril, costuma ser marcado por especulações sobre o clima. A Organização Meteorológica Mundial aponta um enfraquecimento do El Niño nos próximos três meses, e a possível ocorrência do La Niña na sequência continua a ser monitorada. "Se o La Niña chegar e trouxer seca aos EUA, o mercado vai operar em cima disso. O milho pode ir a US$ 4,50 por bushel, mas para depois despencar", afirma Dejneka, da AGR Brasil.
Também está no radar do mercado o fato de que a Argentina deve ampliar o fornecimento da commodity este ano, depois de retirada da taxa de exportação de 20% imposta pelo governo local, trazendo pressão adicional às cotações. "Se a safra americana for boa e o dólar não subir, os produtores brasileiros enfrentarão problemas com a queda dos preços do milho no segundo semestre", afirma Dejneka.
Favorecidos pela valorização da moeda americana ante o real, os preços do milho no mercado brasileiro já subiram mais de 15% em 2016, para R$ 43 por saca, conforme o indicador Esalq/BM&F Bovespa. Com a perda de competitividade do milho americano, os brasileiros venderam ao exterior um recorde de 28,9 milhões de toneladas no ano passado, 40% acima de 2014. Em Mato Grosso, que lidera a produção no país, 56,6% da produção esperada para a safra 2015/16 - a safrinha está em fase de plantio - já foi comercializada.
O entusiasmo com as exportações ajudou a enxugar o mercado interno e acendeu a luz amarela entre os criadores de aves e suínos do país, que viram seus custos subirem de forma expressiva com o preço do milho nas alturas. "Vínhamos falando desde maio do ano passado que o câmbio estava ajudando muito as exportações de milho, mas a indústria dormiu no ponto e se desesperou, o que serviu para colocar os preços onde estão", avalia Pedro Dejneka.
Ontem, em Dubai, durante a Gulfood - maior feira de alimentos do Oriente Médio -, o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra, voltou a reclamar do aumento de custos derivado da alta do milho. "Várias empresas estão receosas em fechar contratos de longo prazo [de exportação] devido ao momento de incerteza no Brasil, frente às instabilidades dos elementos que compõem os custos", diz o ex-ministro em comunicado divulgado pela entidade.
Para tentar garantir a oferta do grão usado na ração animal, o governo brasileiro começou a leiloar estoques públicos. Em 1º de fevereiro, a Conab vendeu 125,9 mil das 148 mil toneladas ofertadas. Houve outros dois leilões - um na semana passada e outro na terça-feira -, com 150 mil toneladas cada, mas foram negociadas apenas 76,4 mil no primeiro e 38,19 mil no segundo. "Receios quanto à qualidade ajudam a justificar a falta de interesse por alguns lotes", afirma Andrea Cordeiro, da Labhoro Corretora de Mercadorias.
Para Andrea, a decisão do governo chinês de desovar estoques de safras antigas de milho também deve influenciar significativamente o rumo dos preços do grão. "Até hoje, ninguém conseguiu realmente dimensionar esses estoques. Alguns falam na faixa de 180 milhões a 200 milhões de toneladas". Os EUA também tendem a se apressar para vender o máximo de milho que puderem antes da entrada da safrinha brasileira, a partir de junho.
Valor Econômico
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