quarta-feira, 23 de novembro, 2016

Demanda por linha branca só voltará no fim do ano que vem

São Paulo - A retomada do segmento de linha branca (geladeira, fogão e lavadoras) deve ocorrer apenas no final de 2017, acreditam especialistas do setor. Até lá, o desafio das fabricantes no País será conciliar um mercado interno ainda retraído e os elevados custos de produção.
Na avaliação do diretor da consultoria GfK, Oliver Rõmerscheidt, a recuperação dessa indústria depende da "melhora concreta" da economia como um todo, indo além do aumento do otimismo dos indicadores. "Ainda não vimos uma retomada consistente, apenas melhora de perspectivas para o próximo ano. A partir do momento que houver de fato maior emprego e renda, será natural que a demanda por itens de linha branca volte a aumentar", diz.
De acordo com Rõmerscheidt, este é um dos setores que mais sofre com a crise econômica e também é influenciado pela volta do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que teve alíquota reduzida entre 2009 e 2013 para impulsionar as vendas naqueles anos.
"Com o boom de consumo desse período, muitos itens do segmento foram trocados, então sequer temos demanda reprimida. Isso também colabora para que a recuperação demore um pouco", avalia ele.
O presidente do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam), Wilson Périco, também não vê o início do próximo ano com muito otimismo. "Enquanto não tivermos retomada consistente da economia, o consumidor não terá confiança para comprar produtos de alto valor agregado. Falta confiança e melhores condições para que a demanda aumente", afirma ele, citando a falta de crédito disponível e o endividamento das famílias como alguns dos entraves que deixarão a recuperação do setor para um horizonte ainda distante.
"Este ano já está perdido para a cadeia de linha branca. Esperamos um 2017 melhor, mas ainda teremos meses fracos, enquanto o aumento da demanda será gradual", prevê.
A gigante Whirlpool, dona das marcas Brastemp e Consul, teve receita de US$ 800 milhões na América Latina no terceiro trimestre de 2016. Um ano antes a receita da companhia na região foi de US$ 751 milhões. Em relatório trimestral, a fabricante projeta avanço em todas as operações ao redor do mundo. A exceção é o Brasil com previsão de vendas de 10% a 12% menores.
Já a rival Electrolux teve retração de 5,3% na América Latina no mesmo período, chegando a US$ 442,2 milhões. De acordo com a companhia, o resultado foi pressionando pelo fraco desempenho dos mercados do Brasil e da Argentina.
Procuradas, as empresas não responderam ao DCI.
Custos
O presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros) acredita que os desafios previstos do setor ao longo do próximo ano não se limitam apenas à baixa de demanda. Na opinião dele, a alta no preço do aço, principal insumo dos eletrodomésticos, já preocupa fabricantes há alguns meses.
"Com os aumentos constantes [do aço], a indústria não consegue repassar preço. Não adianta haver mais disposição para consumo se o valor final de uma geladeira está altíssimo. Não podemos ter tantas altas em uma matéria-prima tão essencial, a produção fica inviável", desabafa.
De janeiro a setembro, a produção fogões, refrigeradores e lavadoras caiu 5,7% em relação mesmo período, conforme levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para Kiçula, parte desta retração já está relacionada ao aumento no preço do aço. "A tendência é que a situação continue como está. Enquanto o preço da principal matéria-prima continuar subindo, não haverá saída para fabricantes e isso abre possibilidade para a compra de aço importado", arrisca o dirigente.
No entanto, comprar o insumo de siderúrgicas estrangeiras também pode gerar um alto custo para as fabricantes visto a variação cambial. Essa falta de previsibilidade também vem reduzindo as encomendas externas. Dados divulgados pelo Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda) apontam que as importações de aços planos acumulam queda de 63,4% entre janeiro e outubro, somando 515.189 toneladas.
Ainda de acordo com o Inda, a Usiminas e a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) estão avisando distribuidores de aços planos sobre novos reajustes de preços que devem ocorrer a partir do início do próximo mês. Este será o quarto reajuste de preço em 2016, que já acumula uma alta de 40%, segundo o presidente da Eletros.
Recentemente, algumas das mais importantes produtoras brasileiras de aço informaram que estão negociando ou já aplicaram reajustes para grandes clientes industriais.
Impasse
Na opinião do presidente executivo do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, os constantes aumentos registrados no ano foram inevitáveis, uma vez que as siderúrgicas vivem uma das piores crises da história. "[Os aumentos] estão relacionados à oferta e demanda, nada além disso. Ao longo dos anos, os preços do aço sempre estiveram abaixo da inflação pelas condições de mercado e desta vez tiveram de subir", explica o executivo.
Especialistas acreditam que a tendência de alta do preço do insumo não deve perdurar por muito tempo. "Acredito que com a desvalorização do dólar seja possível ajustar um pouco melhor o mercado interno, tornando desnecessários reajustes constantes", avalia o economista da GO Associados, Luiz Fernando Castelli.
Para ele, uma coisa é certa: o impasse entre fabricantes e siderúrgicas ainda deve arrastar-se pelos próximos meses. "Quando o valor do insumo aumenta, a indústria tem duas opções: repassar preço ou absorver margem. Mas não há espaço para nenhuma das duas coisas no contexto econômico atual."
DCI - 23/01/2016
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