terça-feira, 12 de maio, 2015

Água será a bebida sem álcool mais vendida

Em meio a bebidas cada vez mais exóticas à disposição no varejo, desde água de coco e lima até cardamomo, romã e mirtilo, há uma com tantas vendas que quase não para nas prateleiras: a água.
Neste ano, as vendas globais da simples água engarrafada vão superar as bebidas com gás pela primeira vez, segundo o grupo de pesquisas de mercado Canadean.
A concorrência dos grandes produtores - Danone, da França; Nestlé, da Suíça; e Coca-Cola e PepsiCo, dos Estados Unidos - por participação de mercado é intensa.
As vendas de água engarrafada cresceram a um ritmo anual de 6% desde 2008, em comparação ao de 1,3% das bebidas carbonatadas.
Esse crescimento vai levar as vendas de água a 238 bilhões de litros até o fim do ano, acima da previsão da Canadean para as bebidas gaseificadas, de 227 bilhões de litros. A água, portanto, se tornará a bebida sem álcool mais vendida.
Os consumidores da geração Y, principalmente nos países desenvolvidos, estão cada vez mais preocupados com a ingestão de aditivos e produtos muito processados. Em bebidas, passaram a preferir a água engarrafada em vez de refrigerantes.
Mas o crescimento mais forte vem da Ásia, especialmente de China e Índia, onde os governos têm dificuldade para fornecer água encanada confiável de forma consistente para cidades cada vez maiores. As famílias de classe média, quando podem arcar com o preço, optam pela água engarrafada.
O consumo do produto na China quase dobrou em cinco anos, de 17 bilhões para 33 bilhões de litros, segundo a Euromonitor, outra empresa de pesquisas.
A Danone, por exemplo, vende mais água do que alimentos para bebês na China, impulsionada pela marca saborizada Mizone.
A diretora de finanças da Danone, Cecile Cabanis, considera a Ásia um "motor de crescimento" para as vendas de águas, também fortes na Indonésia.
A água engarrafada, cujas vendas sofreram nos países desenvolvidos durante a recessão, foi a linha de negócios que teve maior expansão na Danone em 2014. As vendas vêm subindo mais de 10% ao ano desde 2011.
Alguns analistas duvidam que esse ritmo - puxado pelas águas saborizadas, que representam 40% da divisão de águas da Danone - possa ser mantido, mas a empresa sustenta que as vendas mostram-se "muito resilientes".
O grupo francês elevou sua participação no mercado de águas nos últimos cinco anos, atingindo pouco mais de 10%, em parte porque ampliou os gastos em publicidade, segundo a Euromonitor.
Fora da Ásia, os EUA são o mercado de maior expansão, com avanço similar ao de países emergentes, de acordo com Marco Settembri, executivo-chefe da unidade de águas da Nestlé, que entrou no mercado de águas em 1992, quando comprou a Perrier-Vittel.
Enquanto a unidade de águas da Danone é mais forte nos países emergentes, a da Nestlé vende a maior parte de suas águas nos mercados desenvolvidos.
As vendas da marca Pure Life do grupo suíço cresceram tanto nos EUA - onde a companhia obteve metade dos 7,4 bilhões de francos suíços (US$ 7,9 bilhões) obtidos com suas vendas totais de água - que em 2014 a Nestlé superou a Dr Pepper Snapple, fabricante do refrigerante 7Up, como terceira maior empresa de bebidas sem álcool (atrás da Coca-Cola e PepsiCo) nos EUA, de acordo com o boletim informativo setorial americano "Beverage Digest".
"Há um crescimento imenso na categoria de águas nos EUA, puxado pela preocupação com a saúde e a obesidade", diz Settembri.
As vendas de bebidas com gás caíram pelo décimo ano consecutivo nos EUA em 2014, sendo que a queda em volume nos últimos dez anos foi de 14%, segundo a "Beverage Digest".
A Coca-Cola, que tenta reduzir sua dependência em relação às bebidas gasosas, lançou a Smartwater, "água destilada a vapor com eletrólitos", no Reino Unido, outro grande mercado, onde também vende sua Vitaminwater.
As vendas de água engarrafada subiram 10% no ano até março no Reino Unido, segundo a empresa de pesquisas de mercado Nielsen.
Em países emergentes população não confia em água de torneira e, em mercados maduros, jovem quer ser saudável.
A entrada da Smartwater no mercado britânico, em 2014, ocorre dez anos depois do lançamento malsucedido da marca Dasani, também da Coca-Cola. A empresa de Atlanta retirou-a do mercado semanas depois de lançá-la por receios de contaminação. A marca já havia sido ridicularizada pela mídia britânica como sendo pouco mais do que uma água de torneira melhorada e mais cara.
Algumas fabricantes de bebidas, como a Britvic, do Reino Unido, ficaram de fora da maré crescente das águas. A água é "uma categoria em que não é essencial para nós" comunicou a empresa em novembro, algo que contribuiu para uma queda de 5%, em volume, nas vendas de suas operações de bebidas sem gás, como as marcas J20 e Robinsons.
A batalha entre os líderes do setor, intensa nos países emergentes, chegou às raias da hostilidade aberta.
No México, a Danone, dona da Evian, Badoit e muitas outras marcas locais, disputa uma guerra de preços desde o ano passado, depois de o governo ter imposto uma taxa sobre as bebidas carbonatadas com açúcar.
Em fevereiro, o executivo-chefe da Danone, Emmanuel Faber, acusou a Coca-Cola e a PepsiCo de "destruirem valor" ao reforçar sua distribuição de água no México para compensar a queda nas vendas de refrigerantes, atingidas pelo imposto.
Embora as águas com sabor de frutas da Danone também tenham sido afetadas, por serem adoçadas, o imposto teve maior impacto sobre as fabricantes de refrigerantes.
"Portanto, estamos enfrentando uma competição de preços nas águas que se transformou em certas vendas negativas para nós no México [na divisão águas] no ano passado", diz Faber.
Defender a participação de mercado é importante porque a margem para elevar os preços da água sem gás - que representa 82% dos volumes vendidos - costuma ser baixa, já que o produto é muito similar entre as diferentes marcas.
"A água engarrafada dilui as margens do grupo", afirma Fintan Ryan, analista da Berenberg. Na Nestlé, as operações com águas têm margem operacional em torno de 10%, em comparação à média de 15% do grupo. "Não há propriedade intelectual envolvida e é difícil colocar capital ativamente em um negócio que é diluidor. Em geral, no entanto, tem um alto crescimento."
Settembri, da Nestlé, afirma que a distribuição é vital para a lucratividade. "As margens dependem do modelo", acrescenta. "Para ganhar dinheiro com as águas, é crucial que a produção esteja próxima às áreas de demanda, para reduzir o custo com transporte."
A demanda por água engarrafa parece ter chegado para ficar. Segundo a Canadean, as perspectivas "continuam brilhantes, com um crescimento médio a forte de dois dígitos esperado pelo menos até o fim de 2019".
Mas a imagem saudável e limpa da água engarrafada retratada por publicitários confronta-se com o ponto de vista dos ambientalistas.
Peter Gleick, autor de "Bottled and Sold: The Story Behind our Obsession with Bottled Water" (Engarrafada e Vendida: A história por trás de nossa obsessão com água engarrafada") afirma que nos países em desenvolvimento, "a resposta para sistemas municipais ruins de água encanada não é a água engarrafada; é construir sistemas municipais de água confiáveis de alta qualidade e baixo custo."
"A água engarrafada sempre será cara demais para as populações mais pobres e é de uma injustiça flagrante que a água potável esteja disponível apenas para os ricos", acrescenta ele.
Nos países de alta renda, a água encanada é potável, embora possa não ter um gosto tão bom quanto a versão engarrafada. "Embora seja melhor beber água engarrafada do que refrigerantes com açúcar, é ainda melhor - e muito mais barato - beber água potável encanada", diz Gleick.
A Nestlé, cujo presidente do conselho de administração, Peter Brabeck, defende a conservação da água, argumenta que o principal concorrente da água engarrafada é o refrigerante.
Settembri, da Nestlé Waters, diz que se for negado aos consumidores beber água engarrafada eles vão se voltar para bebidas com açúcar ou sucos de frutas em vez de água encanada.
F.X. de Mallmann, que comanda a área mundial de varejo e cuidados com a saúde do Goldman Sachs, diz que há várias "empresas trabalhando no desenvolvimento de tecnologias para melhorar a capacidade de purificação de água pelos consumidores e, para que possam fazer isso em casa e com um custo eficiente". Segundo ele, "isso representa um risco para as perspectivas de longo prazo da água engarrafada"
Valor Economico - 12/05/2015
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