segunda-feira, 05 de janeiro, 2015

Cargill aposta em pipoca de micro-ondas

A multinacional americana Cargill, forte em áreas como grãos e soja no Brasil, investe para ampliar sua atuação no mercado de alimentos industrializados. Em outubro, a companhia fechou uma parceria com a também americana ConAgra Foods para distribuir a linha de molhos (ketchup, mostarda e barbecue) da marca Hunt' s e as pipocas para micro-ondas Act II no Brasil, principalmente a partir de 2015. A companhia também estuda distribuir os óleos em spray da marca Pam, atualmente importados diretamente por alguns supermercados no país.
A receita líquida da Cargill foi de R$ 24,8 bilhões no Brasil em 2013 - alta de 4,4% sobre o ano anterior. A unidade de negócios de alimentos, uma das cinco do grupo no país, teve receita de R$ 2,5 bilhões em 2013 e cresceu 13% nos últimos dois anos, segundo o diretor da divisão, Rubens Pereira. Além dos produtos de consumo, a área inclui o fornecimento de óleos e gorduras vegetais para a indústria.
O ano de 2014 foi "positivo" para a unidade, segundo Pereira, que não informou o crescimento no período. "O fato de atuarmos em categorias básicas tem ajudado. Como o emprego ainda está mantido, o consumidor não mudou os hábitos na parte de alimentos".
A Cargill também assumiu este ano a comercialização de atomatados para o "food service" (restaurantes e lanchonetes), com as marcas Pomarola, Elefante e Tarantella, pagando R$ 12 milhões à Unilever. A transação ocorreu três anos depois que a companhia comprou a operação dessas marcas para o varejo, incluindo a fábrica em Goiânia, por aproximadamente R$ 600 milhões.
A multinacional vai investir em 2015 em novas linhas de envase na fábrica de atomatados em Goiânia, em embalagens cartonadas e sachê. "Vamos ter novas apresentações de atomatados para food service", diz Pereira. Houve uma rápida migração das embalagens de molhos de tomate no varejo, nos últimos anos. As latas eram a principal forma de apresentação e cederam espaço para os sachês, mais baratos. Atualmente, 80% do mercado é em sachê, o que causou uma queda de preços na categoria.
O mercado de atomatados foi movimentado por multinacionais nos últimos três anos e cresceu 7,5% em volume nos 12 meses terminados emoutubro. Em 2011, a Cargil adquiriu os negócios da Unilever. No mesmo ano, a Heinz comprou a brasileira Quero. A marca americana passou a ser produzida no Brasil em 2013, ano em que foi comprada pelo fundo de private equity 3G Capital, de Jorge Paulo Lemann, e pelo investidor americano Warren Buffett, por US$ 28 bilhões. No fim de 2011, a Bunge comprou a Etti, da Hypermarcas, por R$ 180 milhões.
O maior interesse da parceria com a ConAgra, neste momento, é desenvolver a categoria de pipocas de micro-ondas, de acordo com o executivo. A Yoki, comprada pela General Mills em 2012, responde por mais de 70% das vendas. Os preços da Act II são maiores que os da concorrente. As pipocas são produzidas no Brasil por um fabricante terceirizado.
O consumo per capita de pipoca de micro-ondas no Brasil é de 80 gramas ao ano - menos que um pacote por pessoa. A Cargill vê potencial para elevar o mercado brasileiro de US$ 112 milhões para US$ 260 milhões, se conseguir aumentar o consumo per capita para dois pacotes ao ano. A Act II é vendida em 130 países e lidera a categoria emmercados da América Latina, como Chile, Colômbia, Peru e México.
Os molhos, importados dos EUA, vão disputar o segmento mais premium, no qual atua a Heinz. Segundo Pereira, o lançamento da Hunt's não está relacionado ao maior investimento da marca rival no país. "Acho que tem mais a ver com o interesse da ConAgra em ter uma atuação maior no Brasil, do que uma reação a um competidor". O mercado de condimentos cresce 4,5% ao ano. Os ketchups representam 93% do total.
Para 2015, a maior preocupação de Pereira é o impacto do câmbio nos custos de produção e, consequentemente, nos preços no varejo. Além dos itens importados - os azeites Gallo e os condimentos Hunt's -, os produtos fabricados localmente têm embalagens com preços referenciados emdólar. "Do lado de demanda, mesmo que a gente não tenha um crescimento da economia tão acelerado, o consumo de alimentos pode não avançar tão rapidamente como antes, mas continua crescendo", afirma o diretor. "Contamos com a expansão natural das categorias emque atuamos, mas vemos espaço para crescer entrando em outras categorias, por meio de parcerias e aquisições", diz Pereira.
O câmbio já impactou as vendas este ano. Líder da categoria, o azeite Gallo, importado de Portugal e distribuído pela Cargill no Brasil, foi pressionado pela valorização do euro frente ao real. O preço médio do azeite aumentou 10% no varejo brasileiro nos 12 meses até outubro, para R$ 12,40, segundo dados da Nielsen. Com isso, o mercado que vinha crescendo próximo a 10% em volume, avançou apenas 4,5% no mesmo período.
O óleo de soja Liza tem 20% de participação no mercado liderado pelo Soya, da americana Bunge. Essa categoria está praticamente estável, enquanto consumidores migram para outros óleos (milho, girassol e canola), que ainda representam 10% do total, mas crescem 7% emvolume ao ano. "É um sinal de que, mesmo num período de baixo crescimento da economia, o consumidor brasileiro busca alternativas emprodutos mais nutricionais e saudáveis", diz Pereira. A empresa investiu R$ 52 milhões em 2013 e 2014 para ampliar a capacidade produtiva da categoria.
A unidade de negócios comandada por Pereira tem quatro fábricas no país. Outras quatro instalações que fabricam óleo de soja ficam sob a responsabilidade da área de grãos e soja, apesar de seus produtos serem comercializados pela divisão de alimento
Valor Economico
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