sexta-feira, 25 de julho, 2014

Clima afeta qualidade de maçã e embarque despenca

Granizo, clima seco e excesso de chuvas. Em um intervalo de poucos meses, a combinação desses três fatores climáticos prejudicou a qualidade da maçã colhida no Sul do Brasil, contribuindo para um 'efeito dominó' que já provoca forte queda das exportações brasileiras do produto, disparada das importações e, de quebra, maior déficit na balança comercial das frutas.
Tradicionalmente o principal item da pauta de exportações de frutas frescas do Brasil no primeiro semestre - no acumulado do ano, o melão é o líder -, a maçã dos polos de produção do Rio Grande do Sul e Santa Catarina sofreu no fim do ano passado com a chuva da granizo, diz Luiz Belarmino, pesquisador da Embrapa Clima Temperado, unidade da empresa estatal sediada em Pelotas (RS). "A chuva de granizo provocou dano mecânico na fruta e, com isso, a qualidade caiu", afirma Belarmino.
Além das chuvas de granizo, a safra 2013/14 de maçã, colhida entre os meses de janeiro e maio, também foi afetada pela severa estiagem que atingiu o Centro-Sul do país em janeiro. Já na colheita, as chuvas também atrapalharam, diz o presidente da Associação Brasileira de Produtores de Maçã, Pierre Pérès.
De acordo com a analista Letícia Julião, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), o intenso calor prejudicou a aparência da fruta, que ficou mais amarelada. "Para ficar vermelha, a maçã precisa de amplitude térmica, com um pouco mais de frio durante a noite", diz ela. No caso da maçã gala, a variedade mais consumida no país, o calor afetou a suculência da fruta.
Nesse contexto, as exportações de maçã não conseguiram escapar dos problemas. "Para exportar, a fruta que tem ser aquela 'top da top'", acrescenta a analista do Cepea. No primeiro semestre, as exportações brasileiras de maçã recuaram 47,13%, para 44,2 mil toneladas, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) compilados pelo Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf). Em receita, essas vendas tiveram uma queda de 48,3% na mesma comparação, para US$ 31,8 milhões.
Segundo Pierre Pérès, as exportações do setor também enfrentaram um cenário de oferta elevada de frutas na União Europeia, principal cliente do Brasil no segmento. "Houve uma supersafra na Europa. E não só de maçã", afirma ele, citando o aumento da produção de frutas com caroço, tais como ameixa e pêssego.
De certa forma, os estoques de maçã na Europa refletem esse cenário. Em 1º de junho deste ano, os estoques de maçã totalizavam 733 mil toneladas no bloco europeu, incremento de 88% ante igual período do ano passado, de acordo com da Associação Mundial de Maçã e Pera (Wapa, na sigla em inglês).

A forte retração dos embarques de maçã para o exterior "contaminou" os dados de exportação da fruticultura brasileira como um todo, reconhece o gerente de pesquisa de mercado do Ibraf, Cloves Ribeiro. No primeiro semestre, o Brasil exportou 265,5 mil toneladas de frutas frescas, redução de 10,3% na comparação com as 296 mil toneladas comercializadas no mesmo intervalo do ano passado.
"Tivemos um dado negativo alto, mas esse número não representa a realidade, porque a queda é basicamente de maçã", diz Ribeiro. De fato, o volume de exportações que o Brasil perdeu no primeiro semestre, na comparação anual, foi de 30,5 mil toneladas. Já o volume de maçã deu uma contribuição negativa de quase 40 mil toneladas. Em resumo, outras frutas até atenuaram o impacto da maçã nas exportações de frutas frescas do país.
Entre os destaques positivos da pauta de exportações brasileira de frutas está o limão, cujas vendas cresceram 30% em volume no semestre, atingindo 56,7 mil toneladas, conforme o Ibraf. "Mesmo com a retirada do Brasil do Sistema Geral de Preferências, as vendas de limão seguem crescendo", disse o gerente do Ibraf, citando a decisão do bloco europeu, que elevou a tarifa de importação dos produtos brasileiros.
Segundo Ribeiro, o comércio internacional de limão tahiti conta apenas com dois grandes produtores: Brasil e México. Para o segundo semestre, ele prevê melhor desempenho das exportações. O período é sazonalmente mais forte para as vendas de melão e manga.
A menor qualidade das maçãs brasileiras também acabou afetando as importações, impulsionando as compras da fruta de Argentina e Chile, que cresceram cerca de 60% e 80% no primeiro semestre, respectivamente. "A fruta brasileira não está com aparência boa. Então, Chile e Argentina viram uma oportunidade", diz Letícia Julião, analista do Cepea.
No primeiro semestre, o Brasil importou 221,6 mil toneladas de frutas, 6,8% mais do que em igual intervalo de 2013. O gasto com as compras cresceu 8%, para US$ 266 milhões. Já as importações de maçã cresceram 68,4% em volume e 47,8% em receita, a 44,5 mil toneladas e US$ 43,6 milhões. Essa alta contribuiu para elevar o déficit da balança comercial de frutas, de US$ 11,2 milhões no primeiro semestre de 2013 para US$ 39,7 milhões nos primeiros seis meses deste ano.
Valor Econômico - 24/07/2014
Produtos relacionados
Ver esta noticia em: english
Outras noticias
DATAMARK LTDA. © Copyright 1998-2024 ®All rights reserved.Av. Brig. Faria Lima,1993 3º andar 01452-001 São Paulo/SP