quinta-feira, 17 de abril, 2014

Vendas de carros caem e montadoras vão a Brasília

Diante do cenário de acomodação no consumo doméstico, queda nas exportações e estoques no nível mais crítico desde a crise financeira de 2008, as montadoras levam o difícil momento vivido pelo setor a uma reunião, nesta manhã, com a presidente Dilma Rousseff.
A audiência entre Dilma e a Anfavea, entidade que representa os fabricantes de veículos, está marcada para as 9h30 no Palácio do Planalto. Luiz Moan, presidente da associação, chegou ontem a Brasília para participar da reunião, mas o convite também foi estendido a outros dirigentes da indústria. Na audiência de hoje, eles devem falar sobre conjuntura e perspectivas do setor.
Desde que iniciou o mandato, em janeiro de 2011, essa é a primeira vez que a presidente chama executivos da indústria automobilística para uma reunião setorial. Outras vezes, Dilma chegou a receber, separadamente, presidentes de montadoras para lançar projetos de investimento.
O encontro acontece no momento em que as vendas de veículos aprofundam a trajetória de queda iniciada em março. Após fechar o primeiro trimestre em 2,1%, a queda acumulada nos emplacamentos de veículos no Brasil - entre carros de passeio, utilitários leves, caminhões e ônibus - já chegou a 3% neste mês.
Só na primeira quinzena de abril, as vendas ficaram 7% abaixo dos volumes de igual período do ano passado, embora tenham mostrado evolução de 11,7% ante o fraco desempenho dos 15 primeiros dias de março, quando o resultado, porém, foi prejudicado pelo feriado de Carnaval.
A queda no consumo segue o aumento nos preços dos automóveis a partir da retirada de parte dos descontos no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), junto com a instalação obrigatória de airbags e freios ABS, que encareceram os veículos. Ao mesmo tempo, os bancos seguem seletivos na liberação de crédito e o consumidor, mais endividado, está menos propenso a comprar carro novo. Para completar, as montadoras de caminhões sofreram nos três primeiros meses do ano com a lentidão na liberação dos financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a bens de capital - uma situação que o governo já tenta resolver ao simplificar novamente a aprovação desse crédito.
As montadoras pretendem colocar todos esses pontos na mesa durante a audiência com a presidente Dilma, mas, segundo fontes, a reunião deve abordar, em particular, as alternativas para restaurar as exportações para a Argentina. Os dois países vêm negociando desde o fim de março saídas para destravar o fluxo do comércio bilateral, o que pode incluir a criação de uma linha de crédito especial para as exportações de veículos ao país vizinho.
Na primeira rodada de reuniões com as montadoras para tratar do assunto, a operacionalização desse financiamento foi o principal tema discutido na reunião que a Anfavea teve na terça-feira, em São Paulo, com o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Na reunião de hoje no Palácio do Planalto, Mantega será representado por seu secretário-executivo, Paulo Rogério Caffarelli.
Uma das molas propulsoras da produção de veículos recorde do ano passado, as exportações à Argentina - destino de quatro a cada cinco carros embarcados no Brasil - caíram vertiginosamente com as restrições a importações do governo de Cristina Kirchner. A crise no parceiro do Mercosul, combinada à queda da demanda doméstica, está provocando cortes na produção de veículos.
O último ajuste foi anunciado pela Fiat, que deu, no início da semana, férias a 800 operários na fábrica de Betim (MG) para adequar os estoques. No total, o volume de veículos parados em pátios de montadoras e concessionárias fechou março em patamar equivalente a 48 dias de venda, o nível mais alto desde novembro de 2008, no auge da crise internacional. Na época, o giro dos estoques estava em 56 dias.
Apesar do impacto negativo provocado pelo aumento do imposto na virada do ano, não há perspectiva, segundo fontes, de que a nova rodada de recomposição do IPI, prevista para julho, seja negociada na reunião de hoje.
Valor Econômico - 17/04/2014
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