quarta-feira, 02 de abril, 2014

Demanda deve facilitar reajuste de preço

Após recuar 2% em 2013, o volume de produção de cervejas no Brasil cresceu 10,5% no primeiro trimestre de 2014 em relação a igual período do ano passado. Segundo analistas de bancos, o cenário de forte demanda é um facilitador para que a indústria repasse ao consumidor o aumento da tributação que entrou em vigor ontem. O governo elevou os percentuais aplicados sobre os preços que servem de referência para calcular o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e as contribuições PIS e Cofins de cervejas, isotônicos e energéticos.
Passado um verão de temperaturas recordes e Carnaval tardio, que ajudaram a impulsionar as vendas, as cervejarias têm à frente a expectativa positiva do consumo durante a Copa do Mundo. Somente em março, mês do Carnaval este ano, a indústria produziu 23% mais cerveja do que em março do ano passado, segundo dados preliminares do sistema de controle da Receita Federal. No ano passado, a data caiu em fevereiro.
Relatórios do Credit Suisse e do Bank of America Merrill Lynch (BofA) apontam que a Ambev - maior cervejaria do país, dona de marcas como Brahma, Skol, Antarctica e Bohemia - teria que aumentar os preços em 1% a 1,5%, devido à alta dos impostos, para manter a rentabilidade.
Segundo o relatório do Credit, apesar do impacto que a elevação de preços poderia ter no volume de produtos vendidos, o reajuste pode ajudar o cumprimento da projeção de alta na receita da Ambev no ano, de um dígito alto a dois dígitos baixos.
Em análise, a equipe do BofA estima que "fortes volumes devem ser impulsionados pela Copa do Mundo, enquanto um melhor mix deve sustentar as margens", referindo-se à Ambev. Para o banco, se a cervejaria apresentar um aumento de volume de vendas no primeiro trimestre em linha com o registrado pelo mercado (ao redor de 11%), conseguirá atingir sua projeção de expansão da receita para 2014, mesmo que o volume vendido fique estável no segundo semestre, na comparação com igual período de 2013.
A Ambev detém quase 70% do mercado de cerveja no país. Procurada para comentar os possíveis efeitos da alta de impostos, a companhia não se pronunciou. Ontem, suas ações fecharam em alta de 0,88% na bolsa. Para a XP Investimentos, a decisão do governo não deve provocar oscilações negativas no papel. "Acreditamos que as ações da Ambev já precificam este aumento de tributos."
Apesar de os analistas que acompanham o setor minimizarem o impacto da carga tributária maior, a CervBrasil - associação que reúne Ambev, Brasil Kirin, Heineken e Petrópolis - afirmou que as cervejarias terão dificuldade para absorver o aumento, dadas as fortes pressões de custo incidentes sobre o setor. Paulo Petroni, presidente da entidade, cita o avanço de gastos com mão de obra, energia elétrica e insumos importados como cevada e lúpulo. Segundo o executivo, diversos Estados também aumentaram recentemente a carga tributária, inclusive este ano. Mas ele afirma que o setor "não está chorando".
"Estamos confiantes no diálogo constante que estabelecemos com as autoridades governamentais e temos confiança de que vamos buscar alternativas para continuar tendo o crescimento necessário para manter e, quem sabe, até aumentar o investimento no Brasil", diz Petroni.
Segundo ele, 2013 foi um ano de ajustes. No ano passado, o volume de cervejas produzido recuou 2,6%, após sete anos de crescimento acima de 6%. "A postergação do imposto [maior] em outubro permitiu que o setor trabalhasse adequadamente a distribuição, o cliente, a precificação, e os volumes voltaram."
Dados da Receita Federal referentes ao acumulado de 12 meses, mostram que o setor voltou a registrar variação positiva no volume de produção, com um leve crescimento de 0,2% até março.
Valor Econômico - 02/04/2014
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