quarta-feira, 26 de março, 2014

BR Pharma estuda fazer um aumento de capital

Sob o risco de não cumprir compromissos financeiros assumidos com investidores que compraram suas debêntures, a Brasil Pharma, quarta maior rede de farmácias do país, busca formas de capitalizar a operação. Nos últimos trimestres, a empresa tem descontado recebíveis antecipadamente. A capacidade de geração de caixa num nível abaixo do esperado pode levar a empresa a anunciar nas próximos semanas outra medida para equacionar sua estrutura de capital.
O BTG Pactual, criador e principal acionista da BR Pharma, estuda a hipótese de fazer um aumento de capital na varejista, que poderá ser acompanhado por todos os acionistas que não quiserem ter suas fatias reduzidas. Na operação, o banco deverá ficar com novas ações emitidas pela companhia com um prêmio em relação à cotação atual de mercado - apenas neste ano, a BR Pharma ON acumula queda de cerca de 40% (ver gráfico). O BTG deverá ampliar sua participação na empresa.

Uma análise da estrutura de capital da rede de farmácias está sendo feita. E também está em curso uma revisão do orçamento. O objetivo é levantar sua capacidade de geração de caixa a curto e médio prazos.
No terceiro trimestre a empresa informou que o prazo de desconto de recebíveis havia caído de 24 para 5 dias, "reflexo da operação de adiantamento de recebíveis para fazer frente à necessidade de caixa para honrar compromissos de curto prazo". A BR Pharma pode ter feito nova antecipação de recebíveis no quarto trimestre do ano (ver abaixo).
A BR Pharma publica hoje o balanço do quarto trimestre após o fechamento do pregão. No fim de setembro de 2013 o saldo do caixa era de R$ 213 milhões - um ano antes somava R$ 405 milhões.
A BR Pharma foi criada em 2009 e fez sua abertura de capital em 2011, com o objetivo de consolidar redes de farmácias. Conversas entre ela e a americana Walgreens chegaram a ocorrer, mas não avançaram. A situação em que se encontra hoje repete uma receita já vista em outras companhias abertas: aquisições fechadas em ritmo acelerado e dificuldades para integrar tantas operações.
"A Brasil Pharma comprou uma operação grande no Nordeste, outra no Sul, fez um centro de distribuição em Brasília e manteve a sede no bairro da Vila Olímpia, em São Paulo", observa um gestor que prefere não se identificar. "Não há sinergias a capturar e com uma estrutura assim ficou inviável olhar todo o negócio".
A integração de sistemas de gestão e do comercial (compras e logística) das redes compradas pela BR Pharma avançou, mas parou na Big Ben, varejista do Norte e Nordeste adquirida em 2012.
Responsável por 42% das vendas do grupo, a Big Ben - comandada por Raul Aguilera, que ficou no negócio após a venda - até hoje negocia separadamente com fornecedores; não usa sistema SAP e está fora do centro de serviços compartilhados. "Se a Big Ben não entrar, gerar ganho vai ser muito difícil", diz uma fonte. A expectativa é que isso avance no segundo semestre.
Outro problema tem a ver com a gestão de estoque. Por causa de um projeto chamado "ruptura zero", num momento de troca de centros de distribuição, a BR Pharma decidiu aumentar os estoques para manter o nível de serviços das lojas. Mas o volume de estoques acabou subindo demais. Em algumas lojas, chegou a 120 dias. Internamente, a direção avalia que o aumento foi precipitado. O estoque vem caindo e atinge hoje níveis mais baixos do que no terceiro trimestre.
Como a BR Pharma foi criada via quisições, os donos das redes adquiridas mantiveram-se à frente dos negócios e a convivência com os executivos financeiros do BTG, no comando da operação, não foi pacífica. Segundo fontes, os ruídos causados pelas divergências na gestão teriam levado Raul Aguilera, da Big Ben, a quase sair do negócio em 2013. Aguilera tem amplo conhecimento de varejo e entendia que a empresa era administrada como banco. Acabou desistindo de sair da companhia após ter a garantia de que haveria mudanças no comando do grupo.
Há 15 dias, a Brasil Pharma anunciou a troca do presidente. André Sá, sócio do BTG, deixou o posto. No lugar dele entrou José Ricardo Mendes da Silva, que esteve no comando do laboratório farmacêutivo Aché de 2006 a 2013. Silva tem se aproximado dos sócios - entre os controladores de redes adquiridas, só Raul Aguilera e Álvaro José da Silveira, da Rosário, estão na BR Pharma hoje. Além de estudar formas de aumentar a geração de caixa, o novo CEO tem focado seu trabalho em ações para melhorar a rentabilidade.
Pedro Zabeu, analista da Fator Corretora, avaliou a troca como positiva. "A companhia sinaliza que está mudando a gestão para um perfil mais dedicado à indústria", afirmou o analista. Além do novo presidente, a BR Pharma também mexeu em novembro na direção comercial. Álvaro José da Silveira, fundador da Rosario, assumiu essa função.
Procurados, BR Pharma e BTG não se manifestaram.
Valor Econômico - 26/03/2014
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