quinta-feira, 28 de março, 2013

GM demite 598 funcionários em São José dos Campos

A General Motors (GM) confirmou ontem a demissão de 598 operários que estavam, desde agosto, afastados da linha de produção de automóveis no complexo industrial de São José dos Campos, no interior paulista. Do grupo de 748 empregados que tinham seus contratos de trabalho suspensos no regime conhecido como "lay off", a montadora garantiu a volta de apenas 150 com direito à estabilidade - ou seja, aqueles que foram lesionados no trabalho ou em fase de pré-aposentadoria.
A decisão era aguardada, mas a montadora tentou ser discreta no anúncio. Primeiro, comunicou os desligamentos durante a tarde, quando o sindicato local já informava o corte de mais de 500 pessoas. Depois disso, negou entrevistas a jornalistas.
Já pelo lado dos trabalhadores a reação foi ruidosa. O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos classificou as demissões como "injustificáveis", não poupou críticas à presidente Dilma Rousseff - acusada de não intervir no caso, apesar dos incentivos dados pelo governo à indústria automobilística - e prometeu acionar o Ministério Público para tentar reverter parte dos desligamentos.
O corte na GM acontece no momento em que a marca não consegue acompanhar de perto a evolução do mercado - desde o ano passado, cresce menos do que a média da indústria. Mas a situação de São José se deve mais à conflituosa relação com os sindicalistas da região do que propriamente a uma questão de demanda.
Empresa cortou 10% dos 7,5 mil funcionários que tinha na região. Para sindicato local, decisão é injustificável
Na falta de relações trabalhistas mais flexíveis, o complexo de São José - que chegou a ser casa do campeão de vendas Chevette - saiu da rota de investimentos da GM, perdendo projetos para as fábricas de São Caetano do Sul (SP) e Gravataí (RS). A unidade deixou de participar da renovação do portfólio de carros de passeio da marca e o setor conhecido como MVA (sigla de Montagem de Veículos Automotores) passou a produzir apenas o sedã Classic com a aposentadoria, no ano passado, dos modelos Corsa, Meriva e Zafira.
Diante de um excedente de mão de obra que chegou a superar 1,8 mil trabalhadores, a solução encontrada em agosto foi afastar 925 operários enquanto não se chegasse a um acordo que desse competitividade à fábrica. De lá para cá, cerca de 180 funcionários do "lay off" saíram da empresa por conta própria, dentro do programa de demissões voluntárias (PDV).
Para quem ficou até ontem, a GM terá de pagar multa equivalente a três salários a cada demitido. Somando as demissões com os operários do "lay off" que aderiram ao PDV, o enxugamento na força de trabalho em São José passa de 10% dos 7,5 mil empregados que estavam na fábrica há um ano.
O desligamento dos 598 funcionários vale a partir da zero hora desta quarta-feira, disse o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, Antônio Ferreira de Barros, mais conhecido como Macapá. Já no grupo dos 150 mantidos por estabilidade, 137 retornam imediatamente e outros 13 estão afastados pela Previdência Social, disse o dirigente sindical.
O sindicato, contudo, defende que o número total de funcionários estáveis é de 300, o dobro do número previsto pela empresa.
Macapá disse que já mandou a relação desses funcionários para a GM, que encaminhou a lista para o departamento médico analisar cada caso. Os sindicalistas informam que vão acionar o Ministério Público para colocar os trabalhadores não contemplados pela montadora fora da lista de corte.
Ontem, após o anúncio do corte, o sindicato afirmou, em nota, que a GM não tem motivo para demitir porque os empregados têm feito hora extra na fábrica e a empresa segue importando da Coreia, da Argentina e do México veículos que poderiam ser montados na unidade. "Se esses carros fossem produzidos aqui, o cenário seria bem diferente. Em vez de demitir, a GM teria de contratar pelo menos mais 3 mil trabalhadores", afirmou a entidade.
Segundo Macapá, as demissões na GM vão provocar um impacto negativo de R$ 50 milhões por ano na economia da cidade. Esse número, segundo ele, inclui salários e PLR (Participação nos Lucros e Resultados).
O assessor de gabinete do prefeito de São José dos Campos, Paulo Roitberg, disse que a prefeitura vai apoiar o processo de recolocação dos trabalhadores demitidos. "Vamos cadastrar esses empregados no Posto de Atendimento ao Trabalhador (PAT), oferecer cursos de requalificação e orientá-los para a abertura de novo negócio."
Roitberg lembrou que quando foi feito um novo acordo entre o sindicato e a GM, em janeiro deste ano, a montadora se comprometeu em voltar a investir em São José dos Campos quando houvesse a decisão de se produzir um novo modelo no Brasil. A avaliação é que o impacto das demissões não seja tão traumático, dado que a cadeia de autopeças vinha se ajustando.
Já o presidente da Associação Comercial e Industrial de São José dos Campos (ACI), Felipe Cury, disse temer um efeito dominó no setor de autopeças, caso a GM decida fechar o setor de MVA após dezembro.
Valor Econômico
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