Monday, June 27, 2016

Suíça Roche traça estratégia para enfrentar remédios biossimilares

O futuro da indústria farmacêutica global será muito mais criativo do que tem sido até agora, graças aos avanços tecnológicos, e o grupo suíço Roche aposta em produtos melhores para enfrentar a primeira onda de biosimilares que entra no mercado. É o que diz André Hoffman, bisneto do fundador da Roche e chefe do "pool" de sete acionistas da família que continua a controlar o grupo, em entrevista ao Valor, algo raro, já que prefere manter-se discreto. Ele é vice-presidente não executivo do conselho de administração, e sabe para onde a empresa está se direcionando.
O grupo suíço está confrontado à expiração de patentes de remédios contra o câncer Mabthera, Herceptin e Avastin, que juntos geraram vendas de US$ 20,4 bilhões em 2015. No caso de Mabthera, o valor alcançou US$ 7,1 bilhões, quase 15% do faturamento total da companhia no ano passado.
A concorrência de biosimilares na Europa começará no segundo semestre de 2017 e nos EUA a patente expira em 2018. Pfizer, Teva Pharmaceutical e Merck estão na disputa. A primeira versão biossimilar do Herceptin também poderá entrar no mercado no segundo semestre de 2017. Os biosimilares podem custar até 75% menos que o remédio copiado, segundo fontes do setor.
"O principio é de que o remédio é caro quando está com a patente. Atualmente, estamos vendo a primeira onda de biosimilares, e na Roche precisamos encontrar um produto melhor para ter nova patente. O que queremos é novos produtos na Roche", afirma André Hoffmann.
Segundo analistas, o grupo suíço continuará tendo lucro mesmo com uma perda de 40% a 50% do mercado para biosimilares nos três anos seguintes à sua entrada no mercado. É que a Roche tem uma reserva importante de produtos em estado avançado de desenvolvimento. Inclui o potencial de um novo remédio contra esclerose em placa e novas oportunidades na imunoterapia anticancerígena.
Mark Belsey, do UBS, exemplifica em nota a clientes que Roche é um dos grupos suscetíveis de se impor no mercado de mais de US$ 20 bilhões do câncer do pulmão.
A decisão de Roche, conforme Hoffmann, é de manter-se na ponta de medicamentos para doenças que colocam a vida em risco, que no jargão do setor são chamados de "medicamentos éticos". A oncologia é a atividade mais lucrativa do grupo, contribuindo com 47% do faturamento. O setor de diagnósticos pesa 22%.
Para ele, o uso enorme de dados, sequência genética e outros instrumentos tecnológicos está dando novos meios para aprofundar o exame das causas da doença, como nunca antes. "A tecnologia permite alvos específicos para atacar e que o futuro da industria seja mais criativo para fazer avançar a saude, com novos remédios", afirmou.
Hoffmann lamenta, porém, certas limitações legais. "O que eu gostaria era de poder utilizar a identificação de risco de cada paciente para prevenir a doença", afirmou. "E aí o importante é conseguir ter condições legais para colocar em ação um verdadeiro sistema de prevenção. Mas, no momento, não temos o direito de usar esses dados, que pertencem ao paciente". A situação é mais confortável para farmacêuticas nos EUA, onde o Congresso fixou regras mais abrangentes de como " desidentificar" os dados, para permitir a pesquisa e desenvolvimento. "Mas na Europa a situação é diferente. E no Brasil também é complicado", diz.
Hoffmann deixa claro que a família controladora mantem integral apoio para a estratégia de longo prazo da companhia. "Se você compra ações da Roche, tem que entender que estamos e estaremos lá no longo prazo". Em direção de acionistas ativistas, interessados em ganhos maiores no curto prazo, a mensagem é clara: "Os que vem e querem mudar logo as coisas, não funcionará. O direito dos portadores de bonds (obrigações) não é o mesmo dos acionistas".
Roche tem dois tipos de títulos: os portadores de obrigações e as ações. A empresa tem 160 milhões de ações com valor nominal de 1 franco suíço. E 702 milhões de obrigações, sem direito de voto, com valor atual no mercado de 239,70 francos suíços. Os membros das famílias Hoffmann e Oeri possuem juntos 50,1% das ações, representando 9,3% de todos os títulos (incluindo obrigações).
A família decidiu não ter nunca posição executiva no grupo. Indagado, em evento da consultoria EY em Mônaco, sobre o que afinal ele faz relacionado no grupo, André retrucou: "Meu principal cargo é administrar a família".
A situação econômica do Brasil "inquieta um pouco" o grupo suíço, diz Hoffmann. "No setor de saúde é complicado", diz. Ele destaca a importância do mercado brasileiro, e a estratégia da Rocha de política de preços diferenciados para mais acesso a remédios nos países em desenvolvimento.
"Estamos abertos a toda discussão (sobre redução de preços). O importante é que o medicamento chegue ao paciente. Mas se for preciso bater para obter o reembolso de um medicamento fica difícil, o paciente precisa do remédio". A Roche está investindo no aumento da capacidade fabril no Estado do Rio por confiar no longo prazo.
Valor Econômico
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