terça-feira, 26 de julho, 2016

Arroz, feijão e leite, os vilões da carestia

Os gastos com comida estão jogando o custo de vida nas alturas. Em julho, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) — considerado a prévia da inflação oficial — registrou alta de 0,54%. O resultado surpreendeu analistas de mercado, que esperavam que ficasse próximo a 0,43%. Os vilões dessa alta foram as despesas com itens básicos da cesta de alimentos: o feijão (preto e carioca); o arroz; e o leite longa vida. Juntos, esses três itens contribuíram com 0,38 ponto percentual do indicador no mês, ou seja, 70,4% da carestia, segundo dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No ano, o IPCA-15 subiu 5,19% e, no acumulado de 12 meses, 8,93%.

Sem conseguir deixar de consumir arroz e feijão nas refeições diárias, a cabeleireira Geslaini Góes, 56 anos, tentou de tudo para manter o orçamento controlado. Em vez de levar o feijão carioca para a mesa, substituiu pelo preto para tentar gastar menos. A troca, entretanto, não surtiu a economia esperada. “Os preços dos dois estão além da conta. O feijão é, sem sombra de dúvida, o produto que mais pesa no meu bolso. Gastava R$ 200 com as compras de comida, hoje, não saem por menos de R$ 300”, disse ela, que vai comprar, por hora, o tipo fradinho, que está mais em conta.

Com uma variação de 58,1%, o feijão carioca foi o com maior alta em julho entre os mais de 400 bens ou serviços pesquisados pelo IPCA-15. Os tipos mulatinho e preto ficam logo atrás, com crescimento de 45,94% e 34,23%, respectivamente. Embora o arroz tenha avançado bem menos, 3,36%, a alta não passou despercebida da cabeleireira Meidiam Gouveia, 37. “No mês passado, pagava R$ 13 por cinco quilos de arroz, agora o mesmo produto está saindo a R$ 19”, reclamou.

Para manter o consumo em casa, passou a comprar em menor quantidade e escolher o produto não mais por marca, mas por preço. Escolhe sempre o que está mais barato. Mas não sente alívio no bolso. “Calculando por cima, acho que as despesas com supermercado subiram 50%”, lamentou.

Substituição

Com o forte aumento do feijão, arroz e leite, as despesas com alimentação e bebidas como um todo pressionam a inflação. Em média, os gastos com esse grupo subiram, em média, 1,45%, a maior elevação para o mês desde 2008. Para o padre Flávio Demoliner, 54, o preço de praticamente todos os alimentos subiu. “Tenho substituído tudo para manter as compras. Por exemplo, alho eu nem compro mais. O preço do quilo está muito elevado”, disse.

Frutas no carrinho de compras, só quando o valor é muito chamativo, relata Demoliner. A banana-d’água, por exemplo, subiu 8% em julho — uma das 10 maiores altas individuais no mês. Para não deixar de levar o arroz e feijão para casa, o padre passou a comprar em atacado, por considerar mais vantajoso para o bolso. “O preço é mais em conta que em outros comércios. Mas, ainda assim, está muito caro. Meus gastos subiram assustadoramente. No começo do ano, gastava cerca de R$ 150 por semana. Hoje, para comprar a mesma quantidade, gasto o dobro”, afirmou.

O salto da inflação está surpreendendo as famílias, mas, para analistas, o aumento observado em julho foi pontual. Para o economista-sênior da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fábio Bentes, a própria retração da atividade econômica contribuirá para o recuo da carestia. “Em outros grupos do IPCA-15 podemos observar um claríssimo sinal de falta de demanda”, avaliou.

No acumulado em 12 meses, entre nove classes de despesas pesquisadas pelo indicador, apenas os custos com alimentação e bebidas registraram alta. Bentes destaca que o índice de difusão — que mede a disseminação da alta de preços na cesta de consumo das famílias — cravou em julho 57,6%. Isso significa que, a cada 100 produtos e serviços, 57 apresentam aumento. No mesmo período do ano passado, esse indicador estava em 67%.

Prato feito fica mais caro

Com a alta dos preços, o tradicional prato feito do brasileiro está cada vez mais caro. No acumulado do ano, o gasto com 11 itens que compõem a refeição subiram em média 9,03%, segundo o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV). É o dobro do resultado apurado no mesmo período pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que cravou em 4,5%. No ano, os principais aumentos individuais entre os produtos pesquisados foram do feijão-carioca (81,89%), da batata-inglesa (51,65%) e da farinha de mandioca (17,42%).
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