sexta-feira, 22 de janeiro, 2016

Dúvidas sobre o futuro do negócio de margarina

A substituição do chefe da unidade de margarina da Unilever , nesta semana, levanta dúvidas sobre o futuro da área na segunda maior empresa do setor de consumo no mundo.
A divisão de margarina não é um negócio qualquer para a Unilever. A empresa foi fundada em 1929 por meio da união da fabricante britânica de sabão Lever Brothers e a holandesa Margarine Unie, que começou a fabricar a pasta de origem vegetal em 1872. Hoje, a rival da Procter & Gamble é a maior fabricante de margarina do mundo, dona de marcas como Becel, Promise e Imperial.
Mas uma mudança global no gosto dos consumidores tem atrapalhado os esforços da Unilever para revitalizar o negócio, e há especulações crescentes sobre a possibilidade de venda da unidade de margarina.
Ao mesmo tempo, o diretor-presidente, Paul Polman, vem diminuindo o foco da empresa em sua área de alimentos, que tem apresentado um baixo crescimento. Em vez disso, ele está se concentrando nos produtos de cuidados pessoais e para o lar, um segmento que cresce mais rapidamente, oferece margens maiores e inclui itens como pastas de dente, que custam em torno de US$ 15 nos Estados Unidos, e hidratantes infusos em óleos minerais.
Há apenas pouco mais de um ano, a Unilever informou que estava desmembrando seu negócio de margarina na Europa e nos EUA numa unidade própria de "panificação, culinária e cremes vegetais" que, dessa forma, poderia administrar seus custos e tomar decisões de forma independente do resto da companhia. No comando da unidade, Polman colocou Sean Gogarty, que já havia sido seu subordinado direto no passado, enquanto estava na área de marketing de produtos de limpeza para casa. Polman comparou o desmembramento do negócio de margarinas a colocar uma criança doente em um quarto separado dos irmãos e enchê-la de cuidados extras
Mas, na terça-feira, ao divulgar o resultado do ano passado, a Unilever afirmou que "não foi capaz de conter a contração contínua do mercado [de margarinas] em países desenvolvidos". A companhia nomeou Nicolas Liabeuf, ex-diretor de operações de marketing, como substituto de Gogarty.
Uma pessoa a par da saída de Gogarty disse que ela foi motivada por visões incompatíveis sobre como o negócio de cremes vegetais deve ser gerido. A Unilever não quis comentar.
Na terça-feira, o analista Jeff Stent, da empresa de investimentos Exane BNP Paribas, disse que a saída de Gogarty da Unilever levou a um "inevitável aumento da especulação sobre uma saída geral" da Unilever do negócio de cremes vegetais.
A Unilever está trabalhando para ampliar as margens dos seus produtos de cuidados com a casa, fortalecer seu braço de cuidados pessoais e reduzir os custos de toda a empresa, iniciativas que, segundo analistas, reduzem sua dependência da unidade de margarina.
A unidade, que responde por 4% das vendas da Unilever, continua altamente rentável e há muito é uma grande geradora de caixa para a empresa, apesar de vir afetando há anos o crescimento das vendas de alimentos.
Uma grande parte do problema da unidade de margarina é o ressurgimento do consumo de manteiga, depois de o produto ter passado décadas sendo culpado de obstruir artérias e deixar as pessoas mais gordas. Os consumidores passaram a ver a manteiga como um produto mais natural e saudável do que a margarina.
No ano passado, as vendas unitárias de manteiga e misturas de manteiga cresceram 4,2% nos EUA, enquanto as vendas de margarina caíram 8,9%, segundo dados da empresa de pesquisa IRI.
No Brasil, as vendas no varejo tanto de margarina quanto de manteiga estão em queda, mas as de margarina estão recuando mais rápido, afirma a Euromonitor. No ano passado, foram vendidas 77,7 mil toneladas de manteiga no Brasil, 0,6% a menos que em 2014. Já o volume de margarina recuou 2,1% no ano passado em relação a 2014, para 38 mil toneladas.
Em outubro, o McDonald's disse que estava substituindo a margarina por manteiga no seu lanche Egg McMuffins, nos EUA, para ajudar a impulsionar o crescimento das vendas do sanduíche para um percentual de dois dígitos. "Os consumidores gostaram da mudança", disse o diretor-presidente do McDonald's, Stephen Easterbrook, no segundo semestre do ano passado.
Enquanto a isso, os preços da manteiga na Europa em 2015 ficaram abaixo dos da margarina pela primeira vez, segundo Polman, depois que a Rússia baniu as importações de lácteos da Europa.
Se a Unilever decidir vender sua divisão de margarina - cujo valor o banco Société Générale estima em € 7 bilhões (US$ 7,62 bilhões) -, não está claro quem pode querer comprá-la.
"Quem comprar, se é que alguém vai comprar, terá que lidar com a mesma dinâmica: um consumo de pão decrescente e a dinâmica com a Rússia", disse o presidente da Unilever.
Uma opção seria a Unilever formar uma joint-venture na qual tivesse uma fatia de 49%, o que lhe permitiria "compartilhar sinergias, mas desmembrar o negócio, sem abandonar seu legado", diz Warren Ackerman, analista do Société Générale.
A participação de 27% da Unilever no mercado de margarina a torna seis vezes maior que sua rival mais próxima, a Bunge. Por isso, uma joint-venture parece ser mais provável do que uma venda imediata, diz Ackerman.
Polman disse que uma decisão final sobre o negócio de cremes vegetais requer uma análise concreta dos números. "Só porque está caindo não significa que você simplesmente vai vender; você só vende se o preço que pode obter for melhor do que se você ficasse" com o negócio, disse ele a jornalistas.
Valor Econômico
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