segunda-feira, 16 de novembro, 2015

Cervejaria artesanal tenta driblar aumento de custos

Impactadas pela alta do dólar, as cervejarias artesanais que participam do Mondial de la Bière - evento internacional do segmento, que começa no dia 19 no Rio -, estão segurando as margens de lucro e apostando na oportunidade de substituir as marcas importadas, que sofrem na mesma medida. A maior preocupação é evitar que o consumidor deixe de experimentar os produtos premium e volte para as cervejas tradicionais, o que não ocorreu até agora.
Enquanto o mercado geral de cervejas encolheu cerca de 2% este ano, as versões artesanais ou especiais mantêm ritmo de crescimento ao redor de 30%, em média, de acordo com associações do setor.
Mais de 80% do custo de produção das cervejas artesanais vão para malte, lúpulo e fermento - todos importados. Com a desvalorização do real nos últimos meses, os produtores estimam em 50% o impacto final do câmbio sobre o preço dos insumos. As despesas já subiam com a alta da carga tributária e de itens como energia e água.
As marcas tentam não repassar ao preço final todo o aumento de custos. No Mondial, a caneca de 200 ml deve sair, em média, 25% mais cara do que no evento do ano passado, entre R$ 10 e R$ 12, contra R$ 8 e R$ 10 em 2014. Para Victor Montenegro, diretor de negócios da Fagga, responsável pela organização do do Mondial de La Bière, isso é possível porque a cerveja chega ao evento sem o acréscimo da margem do ponto de venda e dos distribuidores.
Assumir parte da distribuição foi uma das soluções encontradas pela cervejaria Mistura Clássica, do interior do Rio, para amenizar o impacto das despesas crescentes. A empresa já fez dois reajustes este ano, mas entendeu que os preços ficariam proibitivos se fizesse o terceiro. "Estamos procurando alternativas. Associamos ao segundo reajuste uma bonificação. O consumidor paga mais, mas leva um bônus em produto", diz a sócia da empresa, Marta Ribeiro.
Renato Estrella, sócio da cervejaria Fraga, diz que o impacto da alta do dólar nos custos totais foi de 40%. Como a empresa também optou por reduzir a margem de lucro, o retorno do investimento na fábrica, antes esperado para sete anos, não ocorrerá antes dos dez. "O que nos assusta é a dificuldade que podemos passar a ter para crescer", diz Estrella, que defende a inclusão do setor no Simples, regime tributário de incentivo à pequena empresa, como forma de melhorar a situação do setor.
Para enfrentar o cenário adverso, a fábrica - que tem capacidade para produzir 5 mil litros e foi inaugurada há dois anos - está sendo alugada para as chamadas marcas "ciganas", que não tem estrutura de produção própria. "Fizemos um reajuste de 20% e reduzimos nossa margem pela metade. Se repassássemos todo o aumento para o consumidor, o preço seria inviável", diz Estrella. Ele investiu cerca de R$ 1 milhão na fábrica em Vargem Grande junto com outros três sócios.
Apesar das dificuldades, o crescimento do setor fica evidente nos números de eventos como o Mondial De La Bière, uma franquia francesa, trazida para o Rio pela Fagga Eventos. De acordo com o diretor da Fagga, o número de cervejarias saltou de 50, em 2013, para 126, na edição deste ano. Serão 800 rótulos expostos, contra 600 há dois anos. Apenas no Rio, o número de microcervejarias saltou de 7 para 48.
"A cerveja artesanal, em geral, tem cadeia local. Essa é uma tendência internacional que está se acentuando no Brasil por causa da carga tributária", diz o executivo, que espera 175 mil pessoas nos quatro dias de evento. Em 2013, foram 40 mil visitantes.
DCI
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