quarta-feira, 13 de março, 2013

Carta Fabril planeja fábrica de US$ 1 bilhão

No auge de um processo de reestruturação societária e em vias de faturar mais de R$ 500 milhões ao ano, a Carta Fabril, fabricante do papel higiênico de marcas Deluxe e Cotton, fraldas e absorventes higiênicos Diana, colocou em marcha um plano para entrar no grupo dos grandes produtores globais de tissue (papel absorvente).
A empresa familiar, de capital 100% nacional, planeja investir US$ 1 bilhão até 2024 na que seria hoje a maior fábrica do mundo, com capacidade instalada de 1 milhão de toneladas por ano, no município capixaba de Aracruz, ao lado de uma unidade da Fibria, principal produtora global de celulose branqueada de eucalipto.
O desafio é grande, mas o projeto, com implementação por módulos, se ajustará aos movimentos do mercado ao longo dos 12 anos de execução. Hoje, a fluminense Carta Fabril produz 54 mil toneladas por ano de papel tissue em duas unidades, em São Gonçalo (RJ) e Anápolis (GO), e é bem menor do que as três primeiras no ranking nacional: a americana Kimberly-Clark, a brasileira Santher e a Melhoramentos, companhia nacional que foi comprada pela chilena CMPC. Além disso, a futura fábrica capixaba terá, sozinha, quase que o tamanho da capacidade total instalada de tissue no país atualmente, de 1,2 milhão de toneladas anuais.
Na primeira fase do projeto, que entra em operação em 2015 com capacidade para 120 mil toneladas por ano, a empresa deverá investir R$ 400 milhões, entre recursos próprios e de terceiros. Linhas de crédito ou outras operações de financiamento - do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Caixa Participações e de agências internacionais de financiamento à exportação - e, futuramente, uma oferta de ações estão entre as alternativas consideradas pela Carta Fabril.
O terreno de 550 mil metros quadrados em Aracruz já está sendo preparado para futuras expansões - em dezembro, foi emitida a licença prévia e licenciamento industrial pode sair em seis meses. Ao todo, serão oito módulos, com duas máquinas e capacidade para 120 mil toneladas anuais de tissue cada um. "Vamos começar com 120 mil toneladas por ano em 2015 e, gradualmente, instalaremos os outro sete módulos, com investimentos adicionais de US$ 800 milhões", afirmou ao Valor o vice-presidente financeiro da Carta Fabril, Marcos Cattan.
Antes de contar com a produção adicional de Aracruz, a Carta Fabril vai elevar em cerca de 50% sua capacidade instalada, ou em 24 mil toneladas por ano, a partir de investimentos de R$ 45 milhões em Goiás. "Já não sei como responder aos clientes, que pedem mais papel. Estamos com as máquinas completamente tomadas", disse o fundador e presidente da empresa, José Carlos Coutinho.
Esse projeto estará operacional em 2014 e contribuirá para que a receita bruta da empresa ultrapasse os R$ 500 milhões no ano, ante R$ 360 milhões estimados para 2013. No ano passado, o faturamento da Carta Fabril ficou pouco acima de R$ 300 milhões. Até agora, as vendas da empresa têm sido concentradas no Rio de Janeiro e no Centro-Oeste. Com capacidade maior, a empresa pretende buscar clientes inclusive no exterior.
O crescimento consistente do consumo de papel absorvente no país, na esteira da melhora da renda do brasileiro, e a migração para produtos premium, como o dupla folha, dão suporte aos planos ambiciosos da empresa. Sobretudo nos mercados emergentes, papel para embalagem e tissue representam as grandes oportunidades à indústria nos próximos anos, de acordo com estudo da Pöyry Management Consulting, unidade do grupo Pöyry, que é um dos principais prestadores de serviços de engenharia do mundo ao setor.
Mundialmente, a taxa média de crescimento do consumo de tissue foi de 3,8% entre 1991 e 2010, segundo relatório publicado no ano passado pela consultoria Risi, referência para a indústria papeleira global. Até 2021, a expectativa é a de que a demanda avance em ritmo superior, de 4,1% ao ano. A Risi, contudo, apontou riscos de queda na taxa de ocupação das fábricas de tissue a partir de 2013, diante dos investimentos em expansão sobretudo na China, na América Latina e na América do Norte.
A possibilidade de exportação do produto - que tradicionalmente é direcionado ao mercado doméstico - também justifica um plano dessa magnitude, conforme Coutinho. "Estaremos ao lado do fornecedor de matéria-prima e a 1,5 quilômetro do porto [Portocel, terminal especializado em celulose]", explicou Coutinho. "Com essa estrutura, podemos embarcar o papel em bobinas e colocar uma unidade de conversão nos mercados pretendidos."
Hoje, Fibria e Suzano Papel e Celulose são fornecedoras da matéria-prima usada pela Carta Fabril - houve testes também com a fibra da Eldorado Brasil Celulose. No futuro, em razão da localização da nova fábrica de tissue, é provável que a Fibria conquiste ainda mais relevância nas compras da empresa.
Valor Econômico
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