Notícias sobre a retirada gradual dos descontos no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) a partir de janeiro ainda não provocaram a corrida às lojas aguardada pelas montadoras e o mercado automotivo seguiu em trajetória declinante neste mês. Houve pequena melhora na média diária de emplacamentos, que voltou a ficar mais próxima a 14 mil carros, um pouco acima do modesto desempenho de outubro, de 13,6 mil unidades por dia útil - a média mais baixa em sete meses. Porém, o mês comercialmente mais curto pesou no resultado de novembro.
Analistas projetam queda dos emplacamentos ao redor de 10% a 11% em relação a outubro e de 5% a 6% na comparação com novembro de 2012. Até quarta-feira, as vendas de veículos leves - sem incluir, portanto, caminhões e ônibus - somavam aproximadamente 247 mil unidades. Mas, levando-se em conta a tradicional aceleração dos licenciamentos nos últimos dias do mês, espera-se que esse número suba, hoje, para perto de 280 mil carros.
Desta vez, o calendário jogou contra. Foram três dias de venda a menos do que outubro, sem contar o feriado do Dia da Consciência Negra, que, embora não seja nacional, interrompeu na quarta-feira da semana passada o funcionamento de concessionárias em alguns dos maiores centros de consumo de veículos do país, como São Paulo e Rio de Janeiro.
O mercado caminha, então, para encerrar novembro com queda ao redor de 1,6% a 1,7% no volume acumulado desde janeiro, o que, segundo os analistas, torna pouco provável o recorde almejado pelo setor neste ano.
Para igualar a marca histórica de 2012, quando 3,63 milhões de unidades foram emplacadas, o mercado terá de chegar perto de 400 mil carros em dezembro, quase repetindo agosto do ano passado, o melhor mês na história da indústria, quando mais de 405 mil automóveis e comerciais leves foram licenciados no país. Já para crescer 1%, como vinha projetando a Fenabrave, a entidade das revendas de veículos, serão necessárias vendas de mais de 436 mil carros no último mês do ano, um volume ainda mais improvável.
A seletividade dos bancos na liberação de crédito e a menor propensão ao consumo por um consumidor menos confiante, e também mais endividado, estão entre os fatores mais citados por especialistas e executivos do setor na tentativa de explicar a desaceleração do mercado desde junho. Soma-se a esses motivos, a forte antecipação de compras no ano passado, que diminuiu o potencial de consumo em 2013.
Com a chegada de recursos do décimo terceiro salário na economia, mais a possibilidade de recomposição de parte do IPI a partir de janeiro, favorecendo a antecipação de compras no fim deste ano, há motivos para acreditar que dezembro será bem melhor do que novembro - até porque o mês que vem terá um dia útil a mais de venda. "Ainda há alguma chance de, pelo menos, empatar com o resultado de 2012", afirma Julian Semple, consultor da Carcon Automotive. Ele lembra que, a partir de agora, as marcas vão explorar cada vez mais o mote dos "últimos dias de IPI reduzido" em campanhas publicitárias.
Apesar disso, Raphael Galante, analista da Oikonomia, diz que as vendas seguem pressionadas por restrições de crédito e a escalada dos juros - continuada com o aumento da Selic na quarta-feira - desenha um cenário ainda mais "pessimista" para 2014. "O grande ponto é o crédito. Sem ele, o mercado não vai girar como deveria", afirma o especialista, que projeta recuo de 2% dos emplacamentos de carros em 2013.
Na briga entre as marcas neste mês, a disputa pelo quinto lugar está acirrada entre Hyundai e Renault. Até quarta-feira, a montadora coreana, que faz sucesso com o HB20, superava a francesa em menos de 80 carros, conforme dados compilados pela Oikonomia. Líder de mercado, a Fiat está com 21% das vendas, seguida por Volkswagen (18,6%), General Motors (18,2%) e Ford (9,2%).
Valor Econômico - 29/11/2013
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