segunda-feira, 13 de junho, 2016

Ouro líquido

O status de produto de segurança alimentar e de baixo valor têm salvo a água mineral da ira da recessão. Carlos Alberto Lancia, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Água Mineral (Abinam) interpreta nesta síntese a opulência dos balanços anuais do setor, não importa quem seja o timoneiro na proa da política econômica. Pela sua lupa, garrafas e copos fecharam 2015 com crescimento na taxa percentual de praxe e o único sinal da crise é notado no recuo de 40% na demanda corporativa de garrafões, efeito atribuído pelo dirigente às levas das demissões no ano passado. A demanda corporativa, situa Lancia, pega 10% do mercado dos garrafões. Para este ano, o presidente dá como líquido (literalmente) e certo a continuidade do crescimento da demanda, mas à taxa de um dígito percentual em lugar dos dois dígitos habituais, por conta da gravidade da contração da economia.
Ao pé da letra, os números do mercado primam pelo gás e alta liquidez. Pelas lentes da Abinam, a produção/consumo rondava 6,8 bilhões de litros em 2008. Seis anos depois, alcançava 13,9 bilhões de litros ou 20% acima do saldo aferido em 2013. Para o ano passado, Lancia estima um salto da ordem de 15% sobre o total registrado em 2014, quando a produção/consumo de água mineral atingiu patamar correspondente a mais que o dobro dos indicadores de oito anos atrás. Por tabela, o consumo per capita de 2015, projetado pela Abinam em 70 litros, também evidencia uma duplicação frente à marca de 35,50 litros per capita em 2008.
O consumo de água mineral também tem sido azeitado por dois fatores de fora da porteira das fontes. Tratam-se de reações manifestadas pelo consumidor, frisa Lancia. Uma delas é a ojeriza à qualidade da água potável provida pelas distribuidoras da rede pública e a outra tem a ver com a ascensão das bebidas ditas saudáveis nos costados da queda nas vendas de refrigerantes (ver à pág. 22). “Trata-se de um fenômeno cultural sem restrição de classes econômicas, causado pela difusão das mensagens de saúde e bem estar nas redes sociais e todo mundo tem celular hoje em dia”, pondera Lancia. “Por causa disso, o setor acha desnecessário anunciar na TV”.
A propósito, ele encaixa, a Abinam conta com 400 indústrias associadas, entre elas fabricantes de refrigerantes que precavidamente puseram um pé na canoa da água mineral. Lancia desconhece filiado da entidade que tenha trilhado o caminho inverso. Retomando o fio da qualidade da água nacional, o porta-voz conta que a Abinam reagiu de imediato à notícia de que a delegação norte-americana nas Olímpíadas 2016 recebera a recomendação de trazer água mineral do seu país para o Rio. A entidade logo movimentou-se e 13 fontes brasileiras de água foram credenciadas pela norte-americana NSF, aval de saúde pública dos EUA.
A carga tributária da água mineral, cita Lancia, é de 42,5%. No México e EUA é zero e na Europa, 7%. Uma forma buscada pela Abinam para baixar o indicador a 7% é inserir a água mineral na cesta básica. O único Estado onde isso ocorre em relação à venda de água apresentadas em todas as versões de embalagens, aponta o dirigente, é Santa Catarina. Em São Paulo, Paraná e Minas Gerais, essa atenuante fiscal se restringe à venda dos garrafões. Por sinal, ele coloca, o Paraná é o único Estado onde PET é o material absoluto em garrafões, na contramão nacional do reinado de polipropileno (PP) nesta embalagem. Lancia reconhece que tal supremacia brasileira de PP não tem similar no resto do planeta, adepto de policarbonato ou PET em garrafões, e a atribui ao custo logístico inferior. O Paraná tornou-se exceção, ele distingue, porque o setor de distribuição e comercialização de água mineral aderiu a uma estrutura adequada para o transporte do garrafão de PET, com caminhões dotados de carroceria de baú isotérmico, ele diz.
Lancia atesta que a corrida pela redução de peso das garrafas de água segue em curso intocada pela crise. Afinal, as fontes de água mineral apenas sopram as pré-formas que adquirem. A propósito, ele situa em 10 anos a idade média das sopradoras em ação nas fontes, parque fabril considerado por ele obsoleto. O presidente atribui os méritos da redução do peso aos progressos na produção de pré-formas específicas para o envase de água mineral, um gol tecnológico marcado pelo tripé resina/injetora/sopradora.
Esse gás não acaba
O duelo eterno entre o custo da água e o de seus recipientes
Até o fechamento desta edição, a Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet) ainda não tinha em mãos os números de 2015 relativos à atuação do poliéster no envase de água mineral. Mesmo assim, os dados de 2014 coligidos pelo diretor executivo Auri Marçon reconfirmam o setor na vice liderança dos mercados da resina. Dois anos atrás, ele aponta, uma fração aproximada de 16% da produção nacional de PET foi abocanhada pelas fontes de água mineral. Mais da metade dos quase 14 bilhões de litros de água mineral extraídos em 2014, esmiúça Marson, foram acondicionados em garrafões de 10 e 20 litros, reduto dominado à larga por polipropileno (PP) no Brasil. “Ou seja, sobram mais de sete bilhões de litros e PET detém perto de 90% do envase deles”, completa Marçon.
As varreduras da Abipet colidem com estimativas extraoficiais do setor de água mineral de que suas vendas já teriam ultrapassado as de refrigerantes, mercado nº1 de PET. Com base nos dados de 2014, Marçon estima o consumo de refrigerantes ao redor de 16 bilhões de litros e PET embolsa 80-85% das embalagens do carbonatado. Embora as águas sejam apresentadas em volumetrias menores, o que aumenta proporcionalmente a quantidade em unidades de embalagens, o dirigente sustenta que consumo da resina prossegue bem maior em refrigerantes, mesmo considerando-se a queda da ordem de 6% nas vendas do produto em 2015, em contraste com a taxa habitual de dois dígitos de crescimento anual degustada pelas fontes de água à margem da depressão da economia.
A persistência do aumento das vendas de água mineral traduz um porto seguro para PET, mas contém em seu bojo uma faca de dois gumes. Afinal, a caça aberta à redução de peso da garrafa, uma fixação das fontes de água em escala mundial, implica menos resina consumida e, para os fornecedores do líquido, maior paridade entre seus custos totais e os gastos com os recipientes. “Por volta de cinco anos atrás, a garrafa de 500 ml de água pesava cerca de 16 gramas e a de 1,5 litro para água sem gás, em torno de 30 gramas”, ilustra Marçon. “Hoje em dia, a primeira tem de 12 a 14 gramas e a última, de 25 a 26 gramas, fruto do avanço da tecnologia na matéria-prima, sopro e injeção”.
Pré-formas no spa
Sinônimo global de injetoras de pré-formas, a canadense Husky forma entre os mentores da qualidade e leveza crescentes das garrafas de água. “Essas embalagens têm evoluído bastante em design e redução de peso”, concorda Paulo Carmo, gerente do negócio de embalagens da base comercial da Husky no Brasil. “Nossa linha HyPET HPP5 permite a injeção de pré-formas com paredes tão finas que eram virtualmente impossíveis de serem produzidas anos atrás”, ele distingue.
O histórico do consumo per capita leva Carmo a considerar que o mercado brasileiro de água mineral sempre esteve comprimido. “Nos últimos anos temos visto o resultado do amadurecimento do consumidor”, ele pondera. “Ele passou a apreciar a água mineral por sua qualidade e pelo seu apelo de saudabilidade, fatores que explicam a imunidade das vendas do produto à recessão”.
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