terça-feira, 01 de março, 2016

Fio e tecido 'inteligentes' ganham mercado

As indústrias têxteis encolheram ao longo da década, mas viram a demanda crescer recentemente, com o interesse das varejistas em substituir itens importados por peças nacionais. Fabricantes de fios e tecidos relatam aumento na demanda acima de 10%. A Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) projeta para a categoria crescimento de 9% na produção este ano, chegando a 2,08 milhão de toneladas. E as companhias que investem em fios e tecidos "inteligentes" têm se expandido ainda mais.
A Rhodia, empresa que integra o grupo belga Solvay, apontou um crescimento de 50% nas vendas de 2015 e, este ano, mantêm o ritmo de expansão. "Em 2014, cerca de 20% das vendas eram de itens lançados há menos de cinco anos. Em 2015, esse índice chegou a 30%. Os fios com inovação ajudam a alavancar vendas no Brasil e as exportações das indústrias têxteis", disse Renato Boaventura, CEO da unidade global de negócios fibras do Grupo Solvay.
Em 2015, a Rhodia colocou no mercado um fio de poliamida já tingido de branco, gerando economia para indústrias com alvejamento. Este ano, a inovação mais procurada é uma poliamida biodegradável. O fio se decompõe em ambientes com baixo nível de oxigênio e presença de microrganismos típicos de aterros sanitários. Nessas condições, o tecido se decompõe em menos de três anos, enquanto a poliamida tradicional demora décadas para desaparecer. Boaventura disse que o preço do fio é praticamente igual ao da poliamida convencional, o que também favoreceu a rápida adoção do produto. "Essa tecnologia foi lançado no ano passado e já representa 10% das nossas vendas", disse.
Uma das empresas que adotou a poliamida biodegradável foi a Malwee, que lançou uma coleção biodegradável em fevereiro. Taise Beduschi, gestora de sustentabilidade do grupo Malwee, disse que foram necessárias adaptações na linha de produção, mas as vendas têm compensado o investimento. "O resultado de vendas varia de acordo com cada inovação. Quando a inovação é entendida como necessidade, a venda aumenta."
A Malwee também colocou no mercado, em 2013, roupas esportivas que liberam micropartículas de hidratante na pele. A tecnologia foi desenvolvida em parceria com a Nanovetores, de Florianópolis. O tecido é feito com nanocápsulas de hidratante, que vão se abrindo ao longo do tempo, liberando o agente hidratante. O efeito dura no tecido por 20 lavagens.
A catarinense Akmey, de biotecnologia têxtil, desenvolveu uma fórmula à base de enzimas produzidas por microrganismos que aceleram o processo de alvejamento de fibras e de tingimento. O uso do componente reduz em 30% o consumo de água, em 20% o gasto de energia e em 35% o uso de componentes poluentes, como peróxido de hidrogênio e soda cáustica. "No caso de tecidos escuros é possível eliminar o uso de soda cáustica e peróxido de hidrogênio, o que facilita também o reúso de água", disse Massaru Aragão, diretor comercial da Akmey.
A Akmey começou a oferecer o componente para lavagem de jeans e atualmente desenvolve versões para malhas, tecidos felpudos e tecidos planos. A companhia gera uma receita anual entre R$ 3 milhões e R$ 4 milhões e viu a demanda por seus produtos crescer 40% nos últimos 12 meses. Uma das clientes é a Coteminas.
João Lima, vice-presidente industrial da Coteminas, disse que reduziu em 50% o uso de soda cáustica e peróxido de hidrogênio no alvejamento de lençóis de algodão. O consumo de água também foi reduzido entre 20% e 30%. "Esse processo é usado na fábrica de São Gonçalo do Amarante [RN] e será adotado em Blumenau [SC] e João Pessoa. O plano é adotar a inovação também na fábrica de Montes Claros [MG]", disse Lima.
Sem citar números, Lima diz que o custo das enzimas é mais alto que dos alvejantes tradicionais, mas com a economia de outras matérias-primas, o custo final de produção fica mais baixo. "A produção sustentável também gera valor para a marca, no Brasil e no exterior", acrescentou.
No fim de 2015, a Akmey recebeu um aporte de R$ 3,5 milhões do fundo FIP Inseed Fima - Fundo de Inovação em Meio Ambiente, gerido pela Inseed Investimentos, para começar a exportar. Alexandre Alves, diretor da Inseed Investimentos, disse que a companhia começa a montar um escritório na Costa Rica para atender indústrias da América Central e do México.
A Nilit, fabricante israelense de náilon, também informou que as indústrias têxteis têm substituído as importações por compra de fios e tecidos no Brasil. "As indústrias estão mais preocupadas com o risco cambial e isso favorece as vendas no país", disse Francisco Weffort, presidente da Nilit para América Latina. Entre as inovações com mais demanda, segundo Weffort, está um fio de náilon que reduz em 1 grau Celsius a temperatura do corpo e tem atraído fabricantes de roupas esportivas.
A Invista, dona da marca Lycra, é outra companhia que viu as vendas crescerem com fabricantes de roupas reduzindo importações de tecidos. "Por conta da crise, o consumidor brasileiro também busca produtos mais duráveis, o que contribui para aumentar as vendas", disse Denise Sakuma, diretora de negócios para América do Sul da Invista. Entre as inovações procuradas, disse Denise, estão fios biodegradáveis feitos à base de cana-de-açúcar e fios com tecnologia de proteção a raios ultravioleta.
Rafael Cervone, presidente da Abit, disse que as novas tecnologias proporcionaram ganhos ao setor nos últimos dez anos, como redução do consumo de água para lavagem de jeans de 100 litros por quilo de tecido para 7 litros. Outro ganho foi a adoção de componentes para tingir o algodão a 98 graus Celsius, ante 200 graus nos processos convencionais. "A maior parte da inovação está concentrada nas indústrias de fios", disse Cervone.
Valor Econômico
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