quinta-feira, 04 de junho, 2020

Marcas se engajam no combate à violência contra a mulher

Ainda que o isolamento social seja a melhor maneira de diminuir a disseminação do novo coronavírus, para algumas mulheres a medida está sendo aterrorizante, porque elas passam o confinamento com seus agressores. Segundo levantamento da Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180 – durante o período, houve um aumento de 9% no número de atendimentos no Brasil, visto que a quantidade de denúncias nesse canal do governo somente em abril teve uma alta de 40% em relação ao mesmo mês de 2019, de acordo o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMDH). De olho nesses números, diversas marcas decidiram fazer algo para ajudar essas mulheres. O Magazine Luiza é uma delas. No último domingo, 31, a marca fez um post no Instagram, no qual a sua influenciadora virtual Lu relembrou as mulheres sobre o botão de denúncia contra a violência doméstica disponível dentro do app da varejista, criado no Dia Internacional da Mulher de 2019 e que, desde o início da pandemia da Covid-19, teve um crescimento de 400% no número de acessos. A postagem viralizou e teve mais de 750 mil compartilhamentos. Muitas pessoas aprovaram a iniciativa do Magalu, porém, outras pessoas disseram que o botão, que direcionava a vítima para uma chamada telefônica ao Ligue 180 não era tão eficaz neste momento de isolamento pela dificuldade de se fazer uma ligação estando no mesmo ambiente que o agressor. Com isso, nesta semana, a varejista lançou uma atualização deste botão, que além de acesso ao Ligue 180, permite acesso direto, via chat, ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, para se realizar uma denúncia online. “Quando lançamos o botão no ano passado, não estávamos neste mesmo contexto de pandemia, onde a vítima está junto com o agressor em casa, tínhamos um outro cenário. No dia 2 de abril, o Ministério de Direitos Humanos lançou os canais digitais de denúncia. Foi então que começamos a estudar esses canais, entender a funcionalidade e efetividade deles, já discutindo uma atualização do botão”, afirma Pedro Alvim, gerente de mídias sociais do Magalu. Ana Luiza Herzog, gerente de reputação e sustentabilidade da companhia, reforça que as críticas foram boas, porque endossaram aquilo que a empresa já estava observando, por meio da ajuda de especialistas da causa. “Monitoramos mesmo, ficamos atentos ao que as pessoas estão falando, porque pode ter algo ali que não percebemos. Esses inputs da comunidade são muito válidos”, completa. Entre esses especialistas citados pela gerente, está um conselho curador de mulheres que atuam na causa, formado por Silvia Chakian, promotora de justiça do Ministério Público do Estado de São Paulo; Jacira Melo, do Instituto Patrícia Galvão; e Elizabete Leite Scheibmayr e Marisa Cesar, do grupo Mulheres do Brasil, também composto por Luiza Helena Trajano, presidente do conselho de administração do Magalu. Segundo Ana, desde seu lançamento, a principal função do botão era gerar conhecimento sobre o 180 e ensinar qual é a diferença entre o 180 e o 190 (o primeiro é usado para denúncias e o segundo, número da polícia, para emergências, quando a agressão está acontecendo naquele exato momento). “Não somos a solução ao problema do combate à violência contra a mulher, o que tentamos é trazer conhecimento, fortalecer os canais que já existem e continuar melhorando”, conclui a gerente. Outras companhias que estão apoiando a causa do combate à violência contra a mulher são Natura e Avon. As antes concorrentes e agora parte do mesmo grupo Natura & Co se uniram ao Instituto Avon e à The Body Shop no movimento global #IsoladasSimSozinhasNão para alertar as pessoas sobre a importância das redes de apoio em combate à violência doméstica durante o período de isolamento social. “Os impactos do isolamento social só amplificaram os problemas que já existiam, como a falta de compreensão sobre os tipos de violências que as mulheres sofrem; desconfiança das mulheres nos serviços de atendimento; falta de preparação para um atendimento acolhedor para mulheres e crianças; falta de trabalho com os homens; e, a disseminação de ideias que fazem com que boa parte das pessoas responsabilize a vítima pela violência que ela sofreu, perpetue a ideia de que ’em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher’ ou ainda entenda que violência é problema de polícia”, aponta Mafoane Odara, gerente do Instituto Avon. Entre os frutos deste movimento, lançado no início da quarentena, está a implantação do “Programa você não está sozinha”, um plano de ações coordenadas lideradas pelo Instituto Avon em parceria com mais de 30 instituições da iniciativa privada, sociedade civil e setor público “com o objetivo de mitigar os impactos do isolamento na vida de mulheres e meninas por meio da prestação de serviços essenciais para mulheres e meninas em situação de violência”, explica Mafoane. Outro desdobramento da campanha foi um chatbot, desenvolvido em parceria com a Uber e Wieden+Kennedy, para ajudar as mulheres a entenderem se estão passando por violência. “Em um mês de serviço, registramos mais de 1.200 acessos, 1.100 mulheres atendidas, sendo que mais de 30% dos casos eram de mulheres que correm ‘risco alto’ de sofrer uma violência grave e não sabiam disso. Dos casos endereçados, 750 foram concluídos com sucesso e as vítimas foram devidamente encaminhadas a uma das assistências previstas no programa: psicológica, material, jurídica ou policial”, completa a gerente. Segundo Mafoane, toda estratégia para enfrentar o problema de violência tem que levar em consideração que as soluções precisam contemplar diferentes áreas, serem coordenadas entre si e terem como premissa atingir o maior número de mulheres. Além disso, para ela trabalhar coletivamente é muito importante para que essa realidade mude. “É papel de todos e todas nós construir iniciativas em que o resultado se reflita em uma nação mais segura para todas, todos e todes”, conclui.
Meio&Mensagem - 04/06/2020
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