segunda-feira, 08 de junho, 2020

Empresa americana utiliza base inovadora para vacina contra coronavírus

O grupo farmacêutico americano Pfizer é um dos que está na corrida para desenvolver uma vacina eficiente contra o novo coronavírus. Com 60 anos de história no Brasil, a empresa está testando ao mesmo tempo quatro possibilidades de fórmulas para a doença, a partir de uma técnica inovadora que utiliza como base o RNA do próprio vírus para desenvolver a proteção em organismos humanos. A expectativa é iniciar a produção em outubro deste ano.
Os testes com a base de RNA mensageiro usada no desenvolvimento da vacina de Covid-19 foram iniciados em 2018, visando outras doenças, em parceria com a empresa de biotecnologia alemã BioNTech. Isso porque a Pfizer já tinha um longo histórico de vacinas antibacterianas, mas nunca tinham produzido uma que combatesse um vírus. Dois anos depois, em janeiro, quando a doença começou a se espalhar na China, a empresa percebeu que poderia aplicar a mesma lógica para o novo coronavírus.
"Há dois anos, quando começamos essa pesquisa, nosso foco era a influenza. Agora, todo esse desenvolvimento e parceria estão sendo avaliados como potencial vacina contra a Covid. Foi uma coincidência interessante, porque com a descoberta do material genético pelos chineses em janeiro, já pudemos iniciar os testes com a mesma plataforma para ver se seria eficaz contra o coronavírus", explicou Márjori Dulcine, diretora médica da Pfizer Brasil.
Na prática, a vacina utiliza um trecho do código genético do vírus, o RNA mensageiro, que é sintetizado em laboratório e inserido na fórmula de imunização. Quando em contato com o organismo humano, o RNA vai levar a "receita" da composição do coronavírus, estimulando que as células do corpo produzam uma parte da proteína muito semelhante ao vírus original.
Posteriormente, o sistema imunológico vai identificar algo estranho, que não é produzido naturalmente pelo corpo. Nesse momento, inicia-se o processo de imunização a partir da produção de anticorpos contra o coronavírus. As novas proteínas de proteção contra o vírus continuarão circulando na corrente sanguínea e cria-se uma memória imunológica para esta doença. Assim, quando entrar em contato com o novo coronavírus, o corpo já terá os anticorpos necessários para combatê-lo.
"A pesquisa está sendo conduzida na Europa e nos Estados Unidos, com 200 e 360 participantes respectivamente. São pessoas saudáveis em duas faixas etárias: de 18 a 55 anos e, posteriormente, de 65 a 85 anos. Só depois, com maior nível de segurança partimos para testes em pessoas do grupo de risco. O processo está tão acelerado que estamos chamando essa fase de 1 e 2, que acontecem simultaneamente", disse Márjori Dulcine.
A diretora médica reforçou que, em situações normais, o processo de desenvolvimento de uma vacina leva de 10 a 15 anos. Para o coronavírus, a ideia é iniciar a distribuição global em massa a partir de 2021, após todos os procedimentos de segurança e regulamentação exigidos. Depois da fase pré-clínica, a empresa começou os testes em humanos no início de maio, com as duas fases iniciais articuladas.
Agora, o principal foco é avaliar a segurança da vacina e a imunogenicidade, isto é, a reação do corpo para produzir os anticorpos estimulados pelo RNA mensageiro. A dose ideal da vacina também é estudada e, quando for escolhida, o processo irá avançar para a fase três, testado em milhares de pacientes pelo mundo. A partir da produção de dados robustos, a vacina parte para a regulação das agências de saúde e pode começar a ser produzida.
"Esperamos até o final deste mês ter um retorno dos primeiros participantes. Mas estamos muito otimistas, já que existem outras empresas com resultados positivos em grupos pequenos, utilizando a mesma plataforma. Isso significa que o RNA mensageiro foi mesmo capaz de produzir os anticorpos neutralizantes, que são os mais importantes", declarou Márjori.
O projeto de desenvolvimento da vacina para o novo coronavírus mobilizou cerca de oito mil pesquisadores da empresa, além de colaboradores indiretos. O investimento é de cerca de 650 milhões de dólares, sendo 500 milhões apenas para a pesquisa e o restante para a produção.
Após a conclusão de um produto final seguro e eficiente para imunizar as pessoas, o grande desafio das indústrias farmacêuticas, órgãos reguladores de saúde e governos pelo mundo é justamente equilibrar a distribuição. A diretora da Pfizer explicou que a empresa está em contato constante com as autoridades brasileiras e com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre o processo de pesquisa e distribuição da futura vacina.
"O mundo inteiro está querendo uma solução e o Brasil está se destacando pelo número de casos, infelizmente. Em conjunto com agências de regulação, a entrega será feita primeiro para as áreas de maior necessidade. Com base em dados demográficos de pacientes produzidos por organizações internacionais e países, monitorados durante todo o processo de desenvolvimento clínico, já estamos tentando entender a logística para atender essas regiões", afirmou.
Epoca - 07/06/2020
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