quarta-feira, 10 de junho, 2020

A estratégia que levou SC a ser líder em ranking de combate à covid-19

Santa Catarina autorizou na segunda-feira, 8, o retorno do transporte público nas cidades do estado, cujas regras de implementação ficam a critério dos municípios. No plano de retomada da economia na pandemia do coronavírus, quase todas as atividades estão liberadas — exceto as aulas, com as escolas voltando a funcionar no dia 3 de agosto, e eventos culturais e esportivos, que seguem suspensos. Um dos primeiros estados a fechar sua economia na pandemia, Santa Catarina ensaia voltar à normalidade. Com 11.742 casos confirmados e 177 mortes por coronavírus, segundo a Secretaria de Saúde, no último boletim divulgado na segunda-feira, 8, o estado tem sido considerado exemplo na condução da crise sanitária. Santa Catarina aparece em primeiro lugar em ranking que avalia as ações dos estados no combate à covid-19. O estudo é publicado a cada sete dias pelo Centro de Liderança Pública (CLP) e leva em conta nove indicadores. É o segundo levantamento consecutivo que o estado aparece em primeiro lugar. A taxa de mortalidade é de 2,4 por 100.000 habitantes, uma das mais baixas do país. A capital, Florianópolis, ficou 30 dias sem registrar nenhuma morte causada pela covid-19, até o último fim de semana quando incluiu mais uma vítima ao balanço da pandemia. Para o secretário da Fazenda de Santa Catarina, Paulo Eli, a principal estratégia adotada pelo estado — e que fez a diferença para registrar esses números — foi decretar a quarentena logo no início da pandemia, no dia 17 de março, dois dias depois de registrar o primeiro caso. “Nosso primeiro estudo previa o fechamento a partir do primeiro caso de transmissão comunitária. Durante 15 dias fechamos tudo, até banco. O presidente do Banco Central chegou a ligar para o governador [Carlos Moisés, do PSL] para saber por que os bancos estavam fechados no estado”, disse o secretário em entrevista à EXAME. Outro ponto fundamental, na avaliação de Eli, foi a paralisação do sistema de transporte público. Todas as viagens municipais, intermunicipais e interestaduais ficaram suspensas. Ontem, o governo do estado autorizou a volta da frota municipal, sob regulamentação das prefeituras. Além disso, adotou uma política de reduzir o número de mortes. Para isso, criou 500 leitos de UTI para atender exclusivamente os casos mais graves na covid-19. Atualmente, a taxa de ocupação está em 20%, com uma ociosidade de 400 leitos. E meta é criar ainda mais 500 vagas dedicadas ao atendimento dos doentes na pandemia. No ranking elaborado pelo CLP, quanto menor o número, melhor é a avaliação. E cada um dos nove critérios tem um peso, sendo o maior no quesito de proporção de casos em relação à população. Também são avaliados indicadores para Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), fornecidos pela Fiocruz, Índice de Transparência da Covid-19, da Open Knowledge Brasil, e de dados de isolamento social, do Google, como explica José Nascimento, head de competitividade da entidade. “De todas as medidas adotadas, o que nos chama a atenção em Santa Catarina é a suspensão do transporte público. A capacidade de atendimento de saúde pública também tem uma situação melhor”, avalia Nascimento. Duas semanas depois de decretar o fechamento do estado, ainda em abril, o governo do estado começou uma retomada gradual da economia, com formato que o secretário Paulo Eli chama de “U”, e que o pior momento, segundo ele, tenha sido em maio. “Abrimos lotéricas, agências bancárias, construção civil. Fomos abrindo uma atividade de cada vez. Depois os autônomos, comércio de rua, shoppings e o transporte coletivo”, disse o secretário. As últimas atividades que vão abrir são as ligadas à cultura, eventos, atividades esportivas e as escolas. A previsão é que as aulas voltem no dia 3 de agosto. Com toda essa crise, o secretário projeta que a recessão no estado seja de 12%. Para ele, as estimativas que falam de queda de 6% na economia brasileira estão sendo otimistas. Em relação às contas do estado, ele diz que há risco do não pagamento do funcionalismo público. “Entre abril e junho nós pagamos com as reservas que tínhamos. O dinheiro que vamos receber da União vai nos ajudar a pagar a folha até agosto”, diz. O estado foi um dos primeiros a congelar o aumento do funcionalismo público para não aumentar despesas durante a pandemia. A medida é, inclusive, uma das contrapartidas do governo federal para auxiliar os estados. Santa Catarina vai receber uma ajuda de 1,2 bilhão de reais em quatro parcelas do governo federal. Nos planos da Secretaria da Fazenda de Santa Catarina, 2020 seria o ano de zerar todas as dívidas do estado e ter espaço para mais investimentos. Agora Paulo Eli estima que isso aconteça em 2021. “Mesmo com a crise do coronavírus, não paramos os projetos. Temos 600 milhões de reais em obras que não foram paradas. Nós temos de investir em infraestrutura para que gere emprego”, disse. A taxa de desemprego hoje no estado é de 5,5%. Em 2019 foram criados 100.000 postos de trabalho e desde o início da pandemia, 70.000 foram fechados. Apesar do estado ter números que mostram maior controle da pandemia, a retomada da economia causou o aumento de casos em algumas regiões. Em Blumenau, no Vale do Itajaí, o número de infectados dobrou duas semanas depois da reabertura de shoppings, igrejas e academias. A reabertura do shopping Neumarkt, no fim de abril, causou aglomeração de pessoas, em sua maioria idosos. O episódio, divulgado em vídeo nas redes sociais, levou a Justiça a notificar o estabelecimento para cumprir as exigências sanitárias determinadas pelo governo, como distanciamento de 1,5 metro, limitar o número de pessoas e proibir a apresentação de shows de qualquer espécie. Blumenau contabiliza 698 casos confirmados e quatro mortes. Chapecó, no oeste catarinense, tem a maior quantidade de pessoas com a covid-19, com 1.025 infectados.
Exame - 09/06/2020
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