quarta-feira, 06 de maio, 2020

Brasil avança em pesquisas de vacina contra o coronavírus

Quando o mundo ainda contabilizava cerca de 80 mil casos de covid-19 — atualmente, superam 3,6 milhões —, uma rede de cientistas brasileiros começava a se dedicar exclusivamente ao desenvolvimento de uma vacina nacional contra o coronavírus. Existem hoje duas pesquisas em andamento no país, com linhas diferentes. A corrida é mundial, mas, para o Brasil, com 210 milhões de habitantes, ter um produto fabricado aqui poderá representar também tranquilidade no futuro, ao não depender — ou depender em menor escala — de importações. Em São Paulo, cientistas do InCor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP), sob a coordenação do professor titular da universidade Jorge Kalil, iniciaram os trabalhos ainda em fevereiro e agora já fazem os primeiros testes em camundongos. A técnica da equipe do professor Jorge Kalil consiste no uso de VLPs (virus-like particles, em inglês), que são moléculas que se assemelham ao vírus, mas não possuem material genético para a replicação viral. "A estas VLPs vamos acoplar pedaços do vírus que a gente pensa que são importantes para o vírus se ligar às células humanas. E aí, desencadear anticorpos contra essa parte, vai fazer com que os anticorpos bloqueiem a penetração do vírus na célula, que é o nosso objetivo principal", explica Kalil, que também é diretor do Laboratório de Imunologia do InCor, em entrevista ao R7. Além disso, o grupo pesquisa também a resposta imunológica de pessoas curadas, voluntários que tiveram a covid-19 e se recuperaram bem. São analisados tanto o soro, que tem a imunoglobulina (anticorpos), quanto as células. "Você pode se defender do vírus com anticorpos, mas também com células, chamadas células citotóxicas, que matam as células infectadas. O que a gente tem observado é que nem todo mundo tem muitos anticorpos neutralizantes. Acredita-se que quando essas pessoas que não têm os anticorpos neutralizantes, é porque o componente celular da resposta foi importante também. Idealmente, vamos fazer uma vacina que tenha componentes para gerar anticorpos, mas também para gerar células que sejam eficazes", acrescenta. Com toda a parte de "montagem" da vacina pronta, agora se inicia a aplicação em camundongos, para ver se eles respondem com a produção de anticorpos. Em seguida, serão utilizados camundongos transgênicos, com um receptor chamado ACE2, que é por onde o coronavírus entra nas células. "A gente vai imunizá-los e ver se, injetando o vírus, eles não ficam doentes", detalha o professor. Os próximos passos incluem estudos pré-clínicos em pelo menos duas espécies de animais, para testar a segurança e verificar se a vacina não é tóxica. "Se tudo isso der certo, a gente vai propor à Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] para começar os estudos em humanos", diz Kalil. Ele, no entanto, ressalta que não haverá no mundo uma vacina disponível em menos de um ano e meio. "Na melhor das hipóteses, um ano. Essa vacina, se nós não tivermos a nossa, se for feita na Inglaterra, primeiro eles vão vacinar os ingleses, depois americanos, depois europeus, depois chineses... Para nós termos acesso a essa vacina, vai demorar. Tem que ter uma fábrica que produza, tem que ter um monte de coisas."
R7 - 06/05/2020
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