Gigantes da internet podem roubar mercado de operadoras de telecom

São Paulo - As operadoras de telecom correm o risco de ficar para trás de gigantes da internet em segmentos emergentes da tecnologia. De acordo com a Accenture, 44% do mercado trocaria as provedoras atuais por entrantes como Google ou Amazon, caso estes oferecessem os mesmos serviços.
A descoberta é fruto de um estudo da consultoria que ouviu mais de 25 mil consumidores em 26 países, revelando algumas perspectivas preocupantes para as teles. Uma delas é o desejo - expresso por 80% do público ouvido - de possuir um fornecedor único de TI e telecom. Pior ainda é o interesse (manifestado por 55%) de trocar de operadora em um intervalo de um ano por conta de maus serviços.
Segundo o responsável pela pesquisa e diretor global de mídia e comunicação da Accenture, Francesco Venturini, o mercado de telecomunicações tradicional está passando por um período de grande comoditização que acelera o movimento de transformação das empresas do setor. "Se os provedores de serviços de comunicação não fizerem alterações necessárias para oferecerem rapidamente serviços hiperpersonalizados, estarão em risco de perder market share e de se tornarem organizações que oferecem simplesmente conectividade sem valor agregado, e isso significa diminuir as receitas", afirma. Caso contrário, diversas "janelas de oportunidades vão se fechar."
Entre as tais 'janelas' estão os mercados de conectividade para carros e casas inteligentes, que vão ajudar a compor o ecossistema da chamada internet das coisas (IoT), aumentando a demanda por chips do comunicação máquina a máquina (M2M).
As verticais são prioritárias para empresas de internet: o movimento ficou evidente durante o Google Cloud Next 2017, principal evento de nuvem da companhia, que terminou hoje (10), em São Francisco (EUA). Entre as novidades apresentadas estão um 'shopbot' (espécie de assistente virtual inteligente)desenvolvido ao lado da gigante do e-commerce eBay e que será integrado ao Google Home.
Uma parceria com a gigante alemã do ramo de software SAP para a criação de novas soluções corporativas também foi anunciada, acirrando a competitividade em um segmento dominado pela Amazon. Originalmente um e-commerce, a companhia fundada por Jeff Bezos possui cerca de 45% do market share global do provimento de nuvem após um turnaround bem-sucedido que priorizou a oferta de serviços digitais. Percorrer um caminho semelhante é algo que as operadoras de telecom tradicionais ainda estudam como fazer.
Estimativas
"Sem dúvida alguma cloud é o tema principal na agenda dos executivos hoje", conta o gerente de pesquisa de software e serviços da consultoria especializada em tecnologia IDC Brasil, Luciano Ramos. "É um mercado que cresce acima dos 20% ao ano e com um total de investimentos no Brasil que deve chegar a US$ 890 milhões já em 2017. Na América Latina como um todo ele ficará muito próximo dos US$ 2 bilhões", estima o especialista.
"[O segmento de nuvem] é um mercado com perspectiva de bilhões, então tem espaço para todo mundo", argumenta ao DCI o territory manager do Google Cloud no Brasil, Renato Carvalho, durante evento na capital paulista que celebrou a abertura do Next.
"Hoje as empresa de telecomunicações são parceiras e dependemos delas em nível global", completou o executivo, observando, contudo, que a empresa possui a maior rede para uso interno do mundo. Segundo o engenheiro de soluções do Google Cloud Michel Pereira, vale mais a pena para a empresa trazer um cabo de fibra óptica "de Boca Raton (EUA) até São Paulo" do que prover segurança em cima da infraestrutura de uma provedora de telecomunicação.
"Existe também o projeto Google Fiber, de distribuir internet e cabeamento nos Estados Unidos", continuou Renato Carvalho, "mas quando olhamos para os negócios, não temos indícios de que o Google vá ser fornecedor de internet como as operadoras são".
Aplicativos
Conforme evidenciado em São Francisco, o foco do Google nos próximos meses será mesmo a popularização do G Suite, o conjunto de aplicativos para o mercado corporativo.
De acordo com dados divulgados pela empresa, o módulo empresarial do G Suite (que agrupa soluções como serviços de e-mail, comunicação e disco virtual) já possui mais de três milhões de clientes. Já a ferramenta para o armazenamento de arquivos na nuvem Google Drive já soma mais de 800 milhões de usuários mensais ativos, tanto em empresas quanto em usuários comuns.