sexta-feira, 12 de agosto, 2016

Venda virtual de alimento ganha relevância para supermercados

São Paulo - Por ser uma das categorias que mais cresce no e-commerce, a venda de alimentos na internet é uma forte aposta de grandes redes brasileiras de supermercados, como o Pão de Açúcar, Muffato e Sonda. Apesar disso, os altos custos e dificuldades na parte logística, aliados à desconfiança do cliente, inibem uma disseminação mais forte no País.
Para o presidente da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), Maurício Salvador, a venda desses produtos na internet é vantajosa na medida que a lucratividade é superior à das lojas físicas. "A exposição dos produtos de marca própria, por exemplo, pode ser mais ativa". Segundo ele, essa categoria é mundialmente a que mais cresce no canal.
No Brasil, essa forte expansão fica evidente nos resultados de três grandes empresas do varejo alimentar: Grupo Pão de Açúcar (GPA), Muffato e Sonda. Em todas, a categoria apresenta taxas de crescimento de dois dígitos.
No Pão de Açúcar, por exemplo, esse valor é superior a 20%. "Nos últimos dois anos percebemos um aumento muito forte nesse segmento. Dentro da marca Extra.com, que lançamos em 2012, a expansão é ainda maior, acima de 30% ao mês", disse ao DCI o diretor de e-commerce alimentar da gigante varejista, Rodrigo Pimentel.
A rede de supermercados Muffato vivencia situação similar, e, de 2011 até 2014 o serviço apresentou um crescimento médio de 20% ao ano, segundo o gerente de e-commerce do grupo, Fábio Donadon. "Em 2015, por conta do cenário econômico desfavorável, o crescimento foi um pouco menor, em torno dos 10%", diz.
Apesar do ritmo acelerado, a representatividade do segmento no total de vendas da empresa ainda é baixa, de cerca de 1%. Esse valor, no entanto, deve subir muito, e a expectativa é que em 2020, de 7% a 10% de todo o faturamento venha do canal. No Sonda, as vendas pela loja virtual têm crescido a uma taxa média anual de 30%.
Dificuldade logística
Mesmo com o forte potencial do segmento, que, nas palavras de Salvador "é apenas uma questão de tempo para se consolidar no Brasil", alguns aspectos operacionais da venda de alimentos no comércio eletrônico inibem a entrada de mais empresas no canal.
O principal deles está ligado à logística. "O desafio de vender alimentos pela internet é gigantesco. Principalmente porque você tem as três cadeias convivendo juntas: seco, refrigerado e congelado", resume Pimentel, do Grupo Pão de Açúcar. "Para que todas as três cheguem em uma condição extremamente boa de consumo é preciso um esforço grande".
Para isso, a rede conta com uma frota própria de caminhões, adaptados especialmente para esse tipo de transporte. Segundo o executivo, a varejista desenvolveu internamente veículos 'tripartidos'. Ou seja, automóveis com três divisões internas: uma área seca, uma resfriada, e uma congelada.
Essa preocupação com o condicionamento adequado das mercadorias não é exclusiva do Pão de Açúcar, e Donadon, do Muffato, também cita esse como o aspecto de maior dificuldade na operação do e-commerce alimentar. "O condicionamento dos produtos perecíveis, que exige temperatura e manuseio adequado, é muito difícil. Outro ponto diz respeito à maturação das frutas, legumes e verduras. O cuidado na seleção e condicionamento desses itens tem que ser rigoroso para garantir qualidade e frescor até a chegada na casa do cliente", diz o executivo.
A empresa também possui uma frota própria para a entrega, mas diz que algumas delas são feitas por transportadoras terceirizadas. "A escolha de um ou outro depende da cidade e do volume de vendas de cada unidade", afirma Donadon.
Receio do cliente
Se do lado operacional o principal desafio está ligado a questão logística, do lado do consumidor há ainda uma desconfiança de se comprar alimentos perecíveis e hortifruti na internet. "No Brasil ainda existe esse bloqueio. Há essa desconfiança se os produtos virão com uma boa qualidade", diz Salvador.
O diretor de marketing e e-commerce do Sonda, Júlio Lopes, concorda que haja essa resistência, mas afirma que é uma realidade que vem mudando nos últimos tempos. "Os investimentos em treinamento da mão de obra e no transporte fazem com que hoje a qualidade de entrega seja compatível às expectativas do cliente", diz.
Em linha com isso, além dos investimentos fortes na parte logística, o Grupo Pão de Açúcar começou em 2013 a oferecer, em acréscimo ao sistema de entrega tradicional e 'express' (em até quatro horas). O sistema 'clique e retire', consiste no cliente comprar pela internet, mas retira na loja física.
De acordo com Pimentel, das três categorias disponíveis, a tradicional ainda é a mais procurada pelos clientes, seguida pela 'express', e por último pela 'clique e retire'. Apesar do pouco apelo que a última categoria ainda tem, Salvador, da ABComm, afirma que ela é uma tendência no exterior. Segundo ele, em países da Europa e nos Estados Unidos, esse sistema (que lá fora é chamado de Drive Thru), vem se expandindo a um ritmo acelerado.
Daqui para frente
Sobre os planos futuros, o Pão de Açúcar afirma que deve inaugurar em breve um centro de distribuição em São Paulo voltado exclusivamente para o e-commerce. "Queremos aumentar de maneira desproporcional nossa capacidade de operar na internet", diz Pimentel. Atualmente, o armazenamento dos produtos ofertados na loja virtual é feito nas próprias lojas físicas, em uma área separada e com infraestrutura adequada para esse trabalho.
Além disso, a empresa pretende expandir as áreas de atuação do e-commerce, que hoje atende apenas os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, e deve ir no ano que vem para outras grandes capitais, como Fortaleza, Belo Horizonte e Recife. "Também estamos de olho nas macro tendências de mobilidade. Hoje, mais de 40% do nosso tráfego vem do mobile", afirma.
O Carrefour, que relançou no mês passado seu comércio eletrônico, anunciou na época que deve iniciar no ano que vem a operação de venda de alimentos na internet. Se os planos da empresa de fato se concretizarem, o Walmart será o único dentre as três grandes redes de supermercado atuantes no Brasil a não comercializar esses produtos de modo virtual.
DCI
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