quinta-feira, 07 de julho, 2016

Mercado de destilados encolhe e busca alta renda

O aprofundamento da crise econômica afetou como um todo o mercado de destilados. Categorias que ainda cresciam no ano passado, como vodca e tequila, apresentaram retração nas vendas nos primeiros meses de 2016. Segmentos com preços mais baixos, como a cachaça, também encolheram.
De acordo com dados da Nielsen, nos 12 meses até maio deste ano, a cesta de bebidas alcoólicas teve queda de vendas de 4,2%. A cachaça - que responde por 78% do mercado de destilados em volume - registrou recuo de 3,1%. Também houve queda em cerveja (3,5%), uísque (14,9%), vodca (5,5%), aperitivos finos (4,9%), conhaque (9,4%) e rum (26,9%).
Para Ricardo Gonçalves, presidente da Cia Müller de Bebidas (dona da Cachaça 51), a retração é resultado da recessão. "O principal público são das classes C e D, que reduziram os gastos fora do lar, incluindo bebidas alcoólicas", disse.
Além disso, acrescenta o executivo, as cervejarias acirraram a competição com bebidas ice [misturas à base de vodca, cachaça ou cerveja], prejudicando as destilarias, que compensavam parte da queda nas vendas de cachaça com essa nova categoria. A linha 51 Ice foi desenvolvida para atrair o público jovem, que não tem costume de tomar cachaça, mas aprecia outros destilados.
Em busca do consumidor de maior renda, a Cia. Müller de Bebidas reforça a linha de cachaças especiais, com novas versões da Reserva 51, que chegam ao varejo neste mês. Enquanto uma garrafa de 51 pode ser comprada por R$ 12, a Reserva 51 não sai por menos de R$ 150. Em 2015, a empresa vendeu 379,7 mil garrafas de cachaça premium, 50% mais que no ano anterior. É um volume ainda pequeno, considerando a produção da companhia, da ordem de 180 milhões de litros/ano.
A companhia também vai ampliar a distribuição no varejo, para atender o consumidor que reduziu a ida a bares e restaurantes, mas continua consumindo a bebida em casa. A Cia. Müller fechou 2015 com receita de R$ 638,6 milhões, uma queda de 0,4% ante 2014. O lucro líquido recuou 17%, para R$ 41 milhões. A previsão para este ano é crescer de 4% a 5% em receita, considerando uma queda no volume de vendas de 2% a 3%.
A Cia. Müller lidera o mercado de cachaças, com 17,4% de participação em volume, segundo a Euromonitor International. Em seguida vêm a Indústrias Reunidas de Bebidas Tatuzinho (dona da marca Velho Barreiro), com 9,8%; e a Diageo, dona da Ypióca, com 9,7%.
Angélica Salado, analista da Euromonitor International, observa que todo o setor de bebidas destiladas sofreu o impacto da redução do poder de compra dos consumidores e do aumento na carga tributária. A elevação nos custos de produção e de importação de bebidas prontas também prejudicaram o desempenho. "A expectativa para esse mercado é que haja uma recuperação apenas a partir de 2018, com a melhora da economia no país", disse Angélica.
O Gruppo Campari, que produz a cachaça Sagatiba, a vodca Skyy e o aperitivo Campari, informou que apresentou queda nas vendas no primeiro trimestre, mas devido a um movimento de antecipação de compras feito por distribuidores em 2015. "Muitos clientes, já sabendo do aumento do IPI a partir de dezembro, anteciparam as encomendas. Como resultado, a venda foi menor no primeiro trimestre, mas agora o ritmo se normalizou", disse Carlos Moura, diretor geral do Grupo Campari no Brasil.
De acordo com ele, a companhia apresentou crescimento em vendas nas categorias de bourbon, tequila, rum, gim e licores. "Existe um movimento polarizado. Categorias especiais ainda crescem. Já o portfólio popular teve queda nas vendas, principalmente em bares", afirmou. Para recuperar mercado, a Campari mudou a distribuição, ampliando a oferta em hipermercados e em redes de atacarejo.
A Campari também reforça a oferta de linhas especiais para compensar o resultado mais fraco na área de bebidas de baixo custo. A companhia colocou no mercado brasileiro recentemente a linha de bourbon à base de centeio Wild Turkey, o Cinzano 1757 (um vermute especial) e o rum Appleton Estate Rare, envelhecido 12 anos. Segundo Moura, a empresa planeja fazer mais um grande lançamento no país ainda este ano.
No primeiro trimestre do ano, segundo balanço global da companhia, o Gruppo Campari registrou queda de 27% nas vendas das marcas Dreher e Sagatiba. Já marcas especiais, como Aperol, Wild Turkey e Appleton cresceram. As vendas no Brasil representaram 1,7% da receita global do grupo, que no trimestre alcançou € 327,4 milhões. No mundo, as vendas da companhia ficaram estáveis.
Para a francesa Rémy Cointreau, que concentra a produção nos destilados de alto valor agregado, o maior problema foi o aumento Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que em dezembro de 2015 passou a ser de 30% sobre o preço de venda. Antes, a cobrança variava por categoria, com valores fixos de R$ 0,14 a R$ 17,39.
"A companhia conseguiu compensar a variação cambial com o manejo dos estoques. Mas a alta do IPI teve que ser repassada ao consumidor", afirmou Bruno Trevisan, gerente da Rémy Cointreau para a região América do Sul e principal executivo da empresa no Brasil.
Trevisan disse que as linhas de conhaque, rum, uísque escocês, bourbon americano, uísque, gin e vodca tiveram aumento médio de 30% nos preços neste ano. Segundo o executivo, mesmo com esses reajustes, as vendas do licor Cointreau cresceram entre 25% e 30% no período de abril a junho. Em relação ao conhaque Louis XIII, que chega a custar R$ 25 mil no varejo, houve queda nas vendas.
"O mercado fez estoques antes do aumento do IPI. Acredito que o volume de vendas seja retomado no fim do ano", afirmou. A Rémy Cointreau informou ainda que vai reforçar as linhas de bebidas de luxo no país para garantir crescimento da receita mesmo se houver redução em volume de vendas.
No quarto trimestre fiscal da companhia, concluído em março deste ano, a Rémy Cointreau reportou aumento de 12,2% nas vendas globais, para € 224,2 milhões.
Valor Econômico
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