sexta-feira, 16 de dezembro, 2016

Câmbio pode trazer instabilidade à ração

São Paulo - Em um tom de otimismo, porém com cautela, o Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações) acredita que a produção poderá crescer 3,3% no ano que vem em relação a 2016. O foco de incerteza fica por conta dos efeitos do câmbio.
Integralmente dependente do mercado interno, o setor de rações para a pecuária está muito atrelado ao desempenho do gado, aves e suínos e ainda é sensível aos impactos da crise econômica, uma vez que 80% das carnes fica no consumo doméstico - fatores que colaboram para reduzir a precisão nas expectativas do próximo ciclo.
"Sob o ponto de vista de produção, a oferta de insumos [milho e farelo de soja] vai se recuperar, desde que não haja problema climático. Mas o câmbio é algo com que estamos atentos. Se tiver uma desvalorização rápida da nossa moeda, o preço pode subir", afirma o vice-presidente do Sindirações, Ariovaldo Zani. Em 2016, a escassez do milho (matéria-prima da ração) para consumo interno subiu os custos de produtores de proteína animal e, em consequência, freou o avanço dos fabricantes de alimento para os animais.
Neste contexto, a produção anual está estimada em 66 milhões de toneladas, neutra, quando comparada ao desempenho de 2015. Os segmentos de gado leiteiro e de corte tiveram quedas respectivas de 3,1% e 6,5%, no consolidado até setembro contra os nove meses do ano anterior. Do outro lado, aves subiram 1,5% e suínos 3,4%, para contrabalançar o total.
Só as aves respondem por 57% do consumo nacional de ração e os suínos, por 23%. Levantamento da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), divulgado nesta semana, prevê uma elevação de 3% a 5% tanto na produção quanto nas exportações de frango em 2017. Para o suíno, a entidade fala em incremento de até 2% na oferta e até 5% nas vendas externas. "Somos reflexo direto dessas cadeias, não posso esperar baixa se eles consideram ganho no próximo ano", pondera o executivo do sindicato.
Caso todas as expectativas se confirmem, a produção de rações pode atingir o recorde de 69 milhões de toneladas. Zani deixa claro que o montante ainda é dependente da recuperação na economia doméstica, do comércio internacional e da confiança do consumidor brasileiro.
Lá fora, o início da presidência de Donald Trump nos Estados Unidos deve ser marcado por promessas de aumento de investimentos que podem culminar em crescimento da inflação e alta nos juros, atraindo recursos ao mercado norte-americano e desvalorizando moedas ao redor do mundo. Por aqui, a preocupação está na tensão política. Na hipótese de uma nova quebra de safra provocada por problemas climáticos - mesmo que ainda remota - e eventual importação do insumo para abastecer os fabricantes de alimentação animal, o dólar alto vai pesar no bolso do produtor.
Inclusive, a própria ABPA já conta com a oferta de milho do Paraguai, Argentina e EUA, cuja venda para o Brasil foi aprovada recentemente, para compor os insumos em 2017.
Uma maneira de evitar outra crise no abastecimento do grão para as granjas é a aquisição antecipada dos insumos, tal como acontece com o hedge feito pelas tradings para exportação. Ao DCI, o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado do Mato Grosso (Aprosoja-MT), Endrigo Dalcin, disse que companhias como JBS e BRF já estão procurando os agricultores para fechar contratos de compra da commodity que será colhida no ano que vem. Até agora, esta prática não era comum no setor de proteína animal do Brasil.
"Essas operações ajudam a garantir o cenário que prevemos, de estabilidade ou alta para a produção de ração", acrescenta Zani.
Desempenho setorial
Ao detalhar o setor de aves, o Sindirações espera fechar 2016 com 32 milhões de toneladas em alimento para alojamentos de pintinhos e 5,7 milhões para galinhas poedeiras. Em 2017, estes números sobem para 33 milhões e 5,9 milhões de toneladas, respectivamente.
Os suínos avançaram na lacuna deixada pela carne bovina, que teve preços mais caros praticados no mercado doméstico. A ração deste segmento cresceu 3,5% para 16,4 milhões de toneladas e no ano que vem a projeção é atingir 17 milhões de toneladas.
DCI
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