sexta-feira, 25 de setembro, 2015

Indústria de suplemento ganha participação com alta do dólar

A vaidade dos brasileiros e a desvalorização do real frente ao dólar estão sustentando o segmento de suplementos nutricionais. Ao contrário do resto do mercado, os fabricantes nacionais comemoram o aumento das vendas neste ano.
O faturamento da indústria de suplementos deve avançar 15% em 2015 atingindo a marca de R$ 1,4 bilhão, segundo estimativa da Associação Brasileira dos Fabricantes de Suplementos Nutricionais e Alimentos para Fins Especiais (Brasnutri).
"As pessoas estão cada vez mais preocupadas com o corpo e em envelhecer bem, isso tudo ajuda a impulsionar o setor", conta o presidente da Brasnutri, Synésio Batista da Costa.
Ele explica que as fabricantes nacionais começaram a ver uma desaceleração no ritmo de crescimento no ano passado, como reflexo do consumo retraído. Apesar do ritmo de expansão menor, a valorização do dólar frente ao real neste anotem ajudado no ganho de competitividade sobre concorrentes que importam os produtos.
"O câmbio tem um efeito duplo em suplementos, porque ao mesmo tempo em que o produto acabado que vem de fora fica mais caro, favorecendo as marcas locais, as empresas são muito dependentes de matéria-prima importada", pondera ele.
O dirigente observa que aproximadamente 10% do mercado de suplemento hoje é de produtos importados ante 15% no início do ano. "Estimamos uma perda de 5% nos últimos meses, muito em função do câmbio", acrescenta o executivo.
Concorrência
A Integralmédica, uma das principais fabricantes nacionais de suplementos, compra 60% dos insumos de outros países e não consegue substitutos para escapar da alta do dólar. "Com isso estamos perdendo um pouco da margem de lucro, mas o efeito positivo é que o produto importado é muito mais impactado, levando a migração da demanda para os suplementos nacionais", diz o presidente da empresa, Filipe Bragança.
O executivo espera um aumento de 15% a 17% no faturamento da fabricante este ano, impulsionado pelo aumento da preocupação dos brasileiros com o físico.
"Esse tem sido um dos principais fatores de crescimento para o segmento e, como os produtos ainda têm baixo índice de consumo pela população, esperamos muito uma expansão dos negócios no médio e longo prazo com base no aumento natural do mercado."
A renda dos consumidores mais pressionada neste ano, entretanto, preocupa Bragança. Ele avalia que, se o cenário econômico não melhorar no próximo ano, o desempenho do segmento tende a ser afetado.
"O aumento da renda dos brasileiros nos últimos anos ajuda a explicar parte desse crescimento e, a partir do momento em que você não tem mais esse fator, isso tem reflexo direto nos negócios", cita ele.
Como resposta a esse cenário, a estratégia da Integralmédica tem sido concentrar os investimentos em ações de curto prazo. "Estamos investindo muito em estratégias de retorno mais imediato, porque em tempos de crise [econômica] tudo fica mais restrito e temos priorizado investimentos nos pontos de venda dos nossos clientes."
Na Supley Laboratório de Alimentos e Suplementos, a estratégia tem sido oferecer promoções, além de ações nos pontos de venda. O diretor da empresa, Alberto Moretto, avalia que as medidas ajudam os clientes a aceitarem melhor os reajustes na tabela de preços.
"Aumento nunca é bem recebido pelo varejo, mas sempre tentamos oferecer alguma promoção, para aumentar a margem do lojista na mesma proporção", detalha ele. Este ano, a dona da marca Max Titanium, elevou os preços do portfólio em cerca de 13% e espera encerrar o ano com alta de pelo menos 25% no faturamento.
"Temos alcançado as metas com a expansão do mercado e também ao crescimento sobre a concorrência", cita Moretto. O executivo também afirma que a alta do dólar tem favorecido a concorrência com importados.
Tendência
"No médio e longo prazo, os produtos que mais aparecem com perspectiva de crescimento são os prontos para consumo, as embalagens com porções menores para quem mora sozinho ou quer apenas experimentar e a linha anti-aging. Além da linha para mulheres, que hoje representa 15% do nosso negócio e segue avançando", observa o diretor da Supley.
Na avaliação do presidente da Brasnutri, Synésio Batista da Costa, com o aumento da população idosa no País, a tendência é que a demanda pelos produtos anti-idade ganhem maior relevância.
"Esse nicho será cada vez mais expressivo, tanto que as empresas já têm produtos voltados ao público com mais de 50 anos", comenta ele.
Na Integralmédica, os produtos anti-idade compõem o portfólio com outras quatro linhas. "Cada linha visa atender a uma demanda específica e percebemos que com a alteração na pirâmide populacional devemos assistir a um aumento da procura por suplementos para a necessidade das pessoas mais velhas", afirma Bragança. Mas ele pondera que a empresa não planeja deixar de lado o nicho de nutrição esportiva, no qual já está estabelecida.
Barreiras
Para garantir que o segmento continue em expansão, os executivos ouvidos pelo DCI defendem que é preciso mudar a regulação sobre suplementos, feita pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
"O órgão que regula o setor tem atuado restringindo muito a oferta de produtos, o que é uma das principais barreiras desse mercado", diz o executivo da Integralmédica.
Para ele, a falta de hábito do brasileiro em consumir suplementos é outra barreira. Mas, segundo Bragança, o avanço das vendas mostra que a população vem aderindo cada vez mais ao consumo. "O investimento em desenvolvimento de produtos também é importante para garantir o avanço. Na Integralmédica temos 14 pessoas trabalhando no laboratório de pesquisa", revela.
Já Moretto, da Supley, lembra que o câmbio continua sendo um dos principais desafios do setor, pois tem efeito duplo sobre a indústria. "Essa é uma barreira para nós, porque ao mesmo tempo em que o real desvalorizado ajuda na concorrência com importados, eleva muito os custos atrelados a matéria-prima", avalia ele.
No próximo ano, a expectativa das fabricantes é manter as estratégias adotadas este ano e, com isso, manter o crescimento do mercado na casa dos dois dígitos. "Sem dúvida esse mercado ainda cresce muito nos próximos anos, na contramão da indústria", comenta Costa, da Brasnutri.
DCI
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