terça-feira, 29 de setembro, 2015

Cresce demanda por genéricos, mas insumo mais caro reduz faturamento

A venda de genéricos vem crescendo acima da média do setor farmacêutico, impulsionada pela demanda dos consumidores que procuram economizar. Mas a alta acentuada do dólar nas últimas semanas pode atrapalhar o desempenho das fabricantes neste ano.
Com a disparada do câmbio, o custo das farmacêuticas com matéria-prima, na maioria importada, tem pressionado mais as margens de lucro. "A demanda de genéricos tende a aumentar na crise, mas com insumo mais caro, parte do ganho é perdido", explica o diretor executivo da Associação Brasileira de Distribuição e Logística de Produtos Farmacêuticos (Abradilan), Geraldo Monteiro.
Apesar de ser mais barato, a categoria já registra uma desaceleração no ritmo de expansão, segundo a presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos (Pró Genéricos), Telma Salles. "Mesmo sendo um mercado que ainda cresce, percebemos que o consumo de medicamentos de maneira geral está menor neste ano", diz. Diante disso, a Pró Genéricos já revisou a projeção de alta de 15% no volume de vendas para o ano. "A expectativa agora é manter o 12,3% de crescimento do primeiro semestre", acrescenta.
Outro fator que pode impactar o avanço dos genéricos é a possível retirada de aportes do governo ao programa de subsídio à compra de medicamentos Aqui Tem Farmácia Popular.
A proposta encaminhada para o Congresso Nacional para o orçamento de 2016 prevê repasse zero para o Farmácia Popular, que neste ano deve receber R$ 578 milhões. O programa, em funcionamento desde 2006, permite a compra de remédios com desconto em farmácias credenciadas. "Se a proposta passar, esse corte afeta sim as fabricantes e esperamos que o governo reconsidere", declara a presidente da Pró Genéricos. Ela esclarece que ainda não é possível estimar o impacto da medida sobre o setor, mas ressalta que os genéricos respondem por cerca de 80% dos produtos vendidos por meio do programa Farmácia Popular.
Estratégia
Enquanto isso, as empresas saem em busca de alternativas para reduzir o impacto cambial e manter competitividade. A EMS adotou algumas práticas para reduzir custos. Hoje, 95% da sua matéria-prima é importada. "Estamos num processo de redução de custos para tentar recompor [a alta do dólar], inclusive buscando aumentar o volume de produção para ganhar economia de escala", revela o diretor comercial da unidade de genéricos da EMS, Aramis Domont.
A exportação, ainda pouco representativa no total comercializado pela farmacêutica, é apontada pelo executivo como uma das alternativas para manter a rentabilidade. "Como exportamos, o dólar alto favorece. Mas hoje apenas 2% do faturamento vêm dessas vendas. A ideia é que esse percentual cresça nos próximos anos", afirma. Do total vendido para outros países, 90% é composto por genéricos.
"Acreditamos que o dólar tende a se desvalorizar um pouco e não permanecer nesse patamar atual. Mas, se isso não ocorrer, precisaremos rever a nossa grade de custos e discutir a situação com o governo, que regula os preços no setor".
Com a redução dos custos e a ampliação da produção de genéricos, a EMS espera fechar o ano com volume de vendas 20% maior ante 2014.
Já a paranaense Prati-Donaduzzi também vê nas exportações uma alternativa para manter a expansão no médio e longo prazo. De acordo com o vice-presidente da Prati, Eder Maffissoni, a empresa tem procurado novos mercados potenciais em outros países.
"Queremos exportar para os Estados Unidos, sendo a primeira empresa a comercializar por lá medicamentos produzidos no Brasil", conta. A previsão é que os genéricos da fabricante passem a ser exportados no meio de 2016.
Maffissoni acredita que a operação pode ajudar a equilibrar o efeito do câmbio no faturamento da Prati. Ele reconhece, entretanto, que ainda levará tempo para que o volume de vendas para o mercado externo tenha relevância nos negócios para compensar o aumento dos insumos.
Concorrência
"Além disso, ainda há muita demanda retraída no mercado interno, por isso o Brasil segue como nosso foco", comenta. Nos primeiros oito meses do ano, a Prati avançou 25% em faturamento, com o volume crescendo um pouco acima desse percentual. Segundo o executivo, essa diferença é reflexo do aumento da concorrência na categoria de genéricos, que tem levado a uma redução nos preços médios.
"Percebemos, do início do ano para cá, uma leve queda nos preços. Isso tem uma relação direta com a concorrência maior este ano", afirma.
Na avaliação dele, a disputa por preço é mais agressiva entre as fabricantes nacionais, já que as multinacionais concorrentes têm políticas de precificação mais conservadoras.
"Nossa principal estratégia para fazer frente a essa disputa tem sido investir em uma malha logística eficiente, para entregar o mais rápido possível as encomendas e ter a menor ruptura do mercado", cita ele.
Na Torrent do Brasil, o impacto da alta do dólar tem sido maior que nas fabricantes locais. A companhia importa 100% dos genéricos comercializados no País.
"Temos um impacto direto no custo do produto, porém, apesar da margem apertada, mantemos os preços", diz o diretor-presidente empresa, Tadeu Strongolli. A receita com vendas até setembro ficou 15% acima do previsto. A Torrent espera encerrar o ano com alta de 10% no faturamento.
DCI
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