quinta-feira, 31 de julho, 2014

A montadora japonesa Honda Motor Co. elevou, nesta terça-feira, as projeções para vendas e lucro no ano, afirmando que novos modelos de automóveis devem ajudar a companhia a se recuperar de um trimest

Nenhum setor industrial brasileiro está recebendo mais investimentos do exterior neste ano do que a indústria automobilística. Só nos seis primeiros meses, os aportes somaram US$ 1,26 bilhão, alta de 51,6% em relação a 2013 e maior montante desde 2009, quando os investimentos estrangeiros nesse setor chegaram perto de US$ 2 bilhões em período equivalente.
Concomitantemente, os fabricantes brasileiros cortaram drasticamente as remessas de lucro a suas matrizes, assim como deixaram de participar de investimentos feitos por seus grupos no exterior. Como resultado, pela primeira vez em cinco anos, está entrando mais dinheiro do que saindo na indústria de veículos (veja gráfico), numa inversão da lógica estabelecida após a crise financeira internacional de 2008, quando os ganhos obtidos em mercados emergentes como o Brasil se tornaram a tábua de salvação às dificuldades vividas pelas multinacionais nos Estados Unidos e na Europa.
Nesse período, quando as vendas de carros no Brasil também cresciam num ritmo de dois dígitos, as remessas das montadoras rondavam a casa dos US$ 5 bilhões por ano - como aconteceu em 2008, 2010 e 2011. Ao mesmo tempo, as filiais brasileiras chegaram a ser escaladas para financiar projetos no exterior, principalmente em mercados vizinhos na América do Sul. No ano passado, pouco mais de US$ 1 bilhão saíram do Brasil com essa finalidade.
Mas de lá para cá, a crise inverteu de lado. Grandes grupos automobilísticos - sobretudo, montadoras americanas que corriam o risco de quebrar, como General Motors (GM) e Ford - conseguiram se recuperar, enquanto o cenário no Brasil passou a ser de queda nas vendas, avanço dos estoques e, como consequência, uma série de paradas nas linhas de produção.

Com isso, a prioridade das subsidiárias brasileiras agora é preservar o caixa - até para custear os grandes projetos de investimento que têm pela frente. Levantamento do Banco Central (BC) mostra que as remessas de lucro dos fabricantes de veículos, junto com o setor de autopeças, caem quase 61% neste ano, somando US$ 616 milhões no acumulado de janeiro a junho. Não chegam, portanto, à metade do montante enviado de volta às matrizes um ano atrás: US$ 1,57 bilhão. Tradicional campeão de remessas, a indústria automobilística nacional dessa vez está bem atrás dos fabricantes de bebidas, que remeteram US$ 1,76 bilhão até junho deste ano.
Por outro lado, a chegada de novas montadoras ao país, mais a modernização ou ampliação das fábricas que já estavam instaladas, tem exigido um crescente volume de investimentos estrangeiros nesse setor. Tais aportes já vinham crescendo num ritmo próximo de 50% em 2013, como reflexo da edição de um regime automotivo que fechou as portas a produtos importados - atraindo fabricantes ao país - e cobrou da indústria mais investimentos em desenvolvimento tecnológico. Em todo o ano passado, quase US$ 1,9 bilhão chegaram do exterior na forma de investimentos diretos na indústria de veículos, um número que deve ser facilmente superado em 2014.
Stephan Keese, sócio da consultoria Roland Berger, diz que o conservadorismo na gestão do caixa se deve não apenas pela necessidade de capital para os investimentos dos próximos anos, mas também pela perda de rentabilidade das montadoras, dado o acirramento da competição por um mercado cada vez menor. Isso, diz ele, é o principal fator por trás do declínio das remessas. "Ficou mais difícil tirar dinheiro daqui porque as empresas precisam investir mais para melhorar a produtividade das fábricas e renovar o portfólio. É o caminho que elas precisam percorrer para ampliar suas margens de retorno", diz o especialista. Ele lembra ainda que a valorização do dólar até o início do ano, levando a perdas na conversão cambial dos ganhos obtidos no Brasil, também tirou atratividade das remessas.
Já Arnaldo Brazil, consultor da MSX International, vê uma correlação mais forte da queda nas remessas com a crise enfrentada pelas montadoras brasileiras. "Entre 2010 e 2011, o crescimento das vendas, junto com um volume mais alto de exportações, resultava em maior sobra de caixa, que podia ser enviada aos controladores no exterior. Com a mudança de cenário, essas sobras de capital diminuíram", afirma. Neste ano, as vendas de veículos no Brasil caem 7,6%, enquanto as exportações das montadoras recuam mais de 35%.
Valor Econômico - 30/07/2014
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