segunda-feira, 30 de junho, 2014

Vinhos produzidos em altitude são novo atrativo turístico da região

Depois de 15 anos e mais de R$ 1 bilhão de investimentos em plantio, pesquisa e infraestrutura, o negócio da vitivinicultura de altitude começa a render os primeiros resultados em Santa Catarina. Em 2014, a meta dos produtores é vender 1 milhão de garrafas - foram em torno de 800 mil no ano passado - e faturar R$ 500 milhões com espumantes, tintos e brancos. A estimativa é da Associação Catarinense dos Produtores de Vinhos Finos de Altitude (Acavitis), que congrega 30 vinícolas familiares de pequeno e médio porte nos municípios serranos de São Joaquim, Campos Novos e Caçador.
"Apostamos muito no enoturismo como forma de desenvolvimento sustentável da Serra, pois ele alavanca outros negócios como pousadas, hotéis e restaurantes", diz o presidente da Acavitis, Acari Amorim. "A visita a vinícolas é programa para o ano inteiro". Ele destaca que o conceito defendido pelos produtores é fazer vinho em pequena quantidade e com qualidade. Em abril a associação promoveu sua primeira vindima de altitude, com palestras, degustação, piquenique, colheita e almoço típico italiano. A próxima está prevista para março de 2015.
Essas vinícolas se situam em altitudes médias de 1.200 metros e são beneficiadas pela amplitude térmica, diferença entre a maior e a menor temperatura ao longo de determinados períodos. Isso permite que a parreira "descanse" nas noites frias, prolongando o seu ciclo de amadurecimento.
A colheita é tardia - ocorre entre maio e junho, período seco em Santa Catarina. "Para nós é o melhor dos mundos, pois aumenta o teor de açúcar na uva", explica Amorim. O solo pedregoso e drenado da região é outra vantagem, pois permite que as raízes da parreira se aprofundem. "Para fazer vinho é preciso ter conhecimento, vontade e paciência", sintetiza Eduardo Bassetti, sócio da Villaggio Bassetti, de São Joaquim. Ele recorda que a propriedade era somente um pasto para gado quando foi comprada em 2005.
Passados nove anos e investidos R$ 10 milhões, o negócio tem hoje 14 hectares de vinhedos Merlot, Cabernet Sauvignon, Pinot Noir, Sangiovese e Sauvignon Blanc. "Nossa previsão é começar a ter retorno a partir do décimo ano", afirma ele. A próxima safra deve render 35 mil garrafas, se o clima ajudar. Em setembro de 2012, uma geada negra - frio intenso que queima as plantas - prejudicou as safras dos dois anos seguintes.
Boa parte da produção da Villagio Bassetti é comercializada em Santa Catarina, mas a estratégia do empreendimento é abrir mercado em restaurantes e lojas especializadas em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. A carga tributária sobre a cadeia de produção nacional chega a 60%, dificultando a concorrência com os importados. "Existe uma forte barreira cultural, mas ela está caindo", afirma. "Em comparações às cegas, o vinho brasileiro não perde para o de nenhum país". Faz parte dos planos de Bassetti receber mais turistas e confrarias de apreciadores: "Para consolidar o projeto, no mínimo um terço da produção precisa ser vendida aqui na vinícola".
Também em São Joaquim, a 1.260 metros de altitude, fica a pioneira na produção vinícola da região em escala comercial, Villa Francioni, responsável por um quarto da venda de vinhos finos brasileiros acima de R$ 35. Ela é fruto do empenho do empresário do setor cerâmico Dilor Freitas, que morreu em 2004, pouco antes de ver o sonho realizado. Seus três filhos, Daniela, Adriana e André, deram continuidade ao empreendimento, que produz 150 mil garrafas anuais de dez variedades de uvas. Em 2014 a vinícola deve faturar R$ 6 milhões.
"Nosso primeiro vinho ficou pronto em 2005 e só agora estamos chegando num ponto de equilíbrio", diz o diretor técnico da empresa, Orgalindo Bettu. Ele explica que o negócio requer pesquisa, atenção aos detalhes e, sobretudo, tempo: "O retorno do investimento leva no mínimo 20 a 30 anos". Para o enólogo, o melhor reconhecimento da qualidade é o que vem do consumidor: "Nunca nos interessamos muito em encher as garrafas de medalhas, que são pouco duradouras; o que queremos é uma empresa sólida".
Valor
Produtos relacionados
Ver esta noticia em: english
Outras noticias
DATAMARK LTDA. © Copyright 1998-2024 ®All rights reserved.Av. Brig. Faria Lima,1993 3º andar 01452-001 São Paulo/SP