quarta-feira, 30 de abril, 2014

Resultado de abril amplia crise das montadoras

As vendas de veículos novos no país mostraram, neste mês, ritmo melhor do que o fraco desempenho de março, mas seguem bem abaixo dos volumes de um ano atrás. A queda dos emplacamentos no acumulado de 2014, que fechou o primeiro trimestre em 2,1%, agora está em torno de 4%, conforme números preliminares.
Na comparação com março, quando o resultado foi prejudicado pelo feriado de Carnaval, as vendas deste mês já mostram alta de 6,2% - variação que ficará ainda maior com a consolidação dos licenciamentos de ontem e hoje. Na média, o setor está movimentando cerca de 1,5 mil carros a mais por dia de venda.
Mas quando se compara com abril do ano passado, o mercado, por enquanto, está 9,2% menor e, assim como já havia acontecido em fevereiro e março, caminha para fechar o mês abaixo de 300 mil unidades emplacadas, entre carros, utilitários leves, caminhões e ônibus. Junto com a acomodação da demanda após a retirada de parte dos descontos no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), as vendas das montadoras foram mais uma vez prejudicadas por feriados - Sexta-feira Santa e Tiradentes - que tiraram dois dias de venda em abril.
A indústria de veículos, representada pela Anfavea, responsabiliza os bancos pelo momento difícil e negocia com o governo e as próprias instituições financeiras saídas para destravar o crédito. Mas ontem o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, deu uma resposta a quem atribui o declínio no consumo de carros - e as consequentes paradas de produção nas fábricas para ajuste de estoques - apenas à maior seletividade dos bancos na liberação de empréstimos. "O volume total de crédito ao setor automotivo não caiu. Ele tem uma relação com a própria demanda. Cada banco tem a sua política de crédito. Os carros nos pátios não podem ser explicados unicamente pelo canal do crédito", disse o executivo durante evento organizado em Brasília pela Câmara de Deputados. "Não existe escassez de crédito", acrescentou Trabuco.
Para David Wong, diretor da consultoria AT Kearney, os bancos até que têm concedido crédito, mas não em volume necessário. O especialista acredita que as vendas podem piorar ainda mais até agosto, em razão de feriados e do aguardado menor fluxo de consumidores nas revendas durante a Copa do Mundo. "As pessoas [durante a Copa] não estarão nas ruas para comprar veículos", diz.
Por perspectivas como essa, analistas estão revisando para baixo projeções que já eram negativas no início do ano. Os números de Wong apontam para queda de 12% a 13% da produção de veículos e de 7% a 8% das vendas no varejo. Até março, a fabricação de veículos no país recuava 8,4%. "As previsões não são animadoras, a menos que aconteça alguma mudança estrutural", comenta Wong.
Já Raphael Galante, analista da Oikonomia, diz que o mercado de carros - sem colocar na conta caminhões e ônibus - pode chegar em dezembro com queda acumulada de 10% se mantido o cenário de estagnação do crédito e menor propensão ao consumo, dado o comprometimento da renda das famílias com o avanço dos preços e dívidas contraídas nos últimos anos. A estimativa também leva em consideração uma nova rodada de aumento do IPI, prometida pelo governo para julho. "Nesse caso, as vendas podem facilmente cair a esse nível", aposta Galante.
Neste mês, as vendas ultrapassaram a marca de 1 milhão de veículos no total acumulado desde janeiro. O volume, todavia, está 43,5 mil unidades - ou quase três dias de venda - abaixo dos emplacamentos registrados em igual período de 2013, como mostram os licenciamentos realizados até a última segunda-feira.
Na briga entre as marcas, Hyundai e Renault disputam acirradamente a quinta colocação nas vendas de abril. A dois dias para o fechamento do mês, os coreanos estavam na frente, com participação de mercado de 7%, ante 6,8% dos franceses. No pelotão de frente, a Fiat segue na liderança, com 21,9% das vendas, seguida por General Motors (18,4%), Volkswagen (16%) e Ford (9,1%), de acordo com dados compilados pela Oikonomia.
Valor Econômico - 30/04/2014
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