segunda-feira, 13 de outubro, 2014

Calçadistas usam criatividade para reduzir impacto do preço do couro

São Paulo - Os fabricantes de calçados masculinos estão tendo que usar a criatividade para minimizar os efeitos da alta do preço do couro. Entre as alternativas encontradas, a terceirização da produção não foi descartada pela maior parte do setor.
Com o aumento das exportações de couro, as indústrias calçadistas viram o preço desse material aumentar e não têm conseguido repassar o custo para o produto final. Mesmo os mais otimistas, como a paulista Di Pollini, sentiram os efeitos da alta nos preços. "O preço do couro dobrou e nós não repassamos para o consumidor, com isso a nossa margem de lucro diminuiu", conta o diretor de marketing e novos negócios da empresa, Daniel Barros.
Para compensar as perdas na margem, a empresa tem investido na ampliação das lojas da marca com o modelo de franquias. Por comercializar os calçados apenas nas lojas da rede, a empresa percebe com antecedência o arrefecimento das vendas e consegue reagir mais rapidamente a cenários adversos.
Diferentemente de outras empresas do setor, a calçadista trabalha com um estoque acima da média. "Nós trabalhamos com estoque alto por escolha, para assegurar que não falte produto caso a demanda aumente rápido", explica.
Estratégia
Uma das medidas adotadas pela Di Pollini para garantir bons resultados foi a terceirização de parte da produção. Na empresa, o pesponto, fase da produção envolvendo a costura do couro, ainda é feito pelos mesmos profissionais, mas sem vínculo direto.
Estratégia similar está nos planos da Touroflex, calçadista de Guarulhos. Segundo o diretor da empresa, Adriano Kayayan, o quadro de funcionários da empresa diminuiu cerca de 25% neste ano e eles estão terceirizando parte do processo. "A sessão de costura é a que mais emprega e a nossa ideia é transformar um custo, que hoje é fixo, em variável", explica. O plano prevê a terceirização de pelo menos 70% da equipe de pesponto.
Embora os executivos afirmem que parte das demissões está sendo convertida em terceirizações, o número de empregados nas indústrias de calçados e couro apresentou redução de 9% entre julho e agosto, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em relação a agosto do ano passado, houve redução de 13,8%.
De acordo com o presidente do Sindicato da Indústria de Calçados de Franca (Sindifranca), José Carlos Brigagão do Couto, a maior preocupação é se os postos de trabalho perdidos neste ano serão recuperados no início de 2015.
Dificuldades
Para Brigagão do Couto, o crescimento das exportações da principal matéria-prima do setor calçadista tem sido um dos maiores problemas. "Não somos contra a exportação, mas prejudica a gente. O governo tem dado incentivos para a exportação e a demanda local não tem sido suprida, pressionando os preços", explica.
Ele admite que às vezes a indústria nacional não consome o couro local, mas sugere que o governo poderia desonerar a venda da matéria-prima para estimular a venda interna.
Segundo o presidente do sindicato, a orientação que a entidade tem dado aos empresários é que eles mantenham a cautela e não ampliem a produção. "Em decorrência da situação econômica e a ausência de reformas, o ano que vem exige cuidado", diz.
Kayayan, da Touroflex, acredita que, sem medidas de estimulo do governo, o setor se tornará totalmente dependentes da sobretaxa sobre os calçados chineses como alternativa para sobreviver no ambiente de negócios.
Perspectiva
A Di Pollini, que produz cerca de 250 mil pares de calçados por ano, espera manter os resultados na reta final do ano, baseada no desempenho do Dia dos Pais, embora o volume produzido não tenha aumentado em relação a 2013.
"Nosso faturamento também não deve crescer, mas não vamos fechar com prejuízos porque estamos adotando medidas para garantir um bom resultado", afirma.
Para Brigagão do Couto, a Couromoda, feira que acontece na primeira quinzena de janeiro, será o termômetro do próximo ano. "Antes disso é difícil dizer como será 2015, mas se o desempenho na feira não for bom, o primeiro trimestre de 2015 estará em risco", acredita. Já o diretor da Touroflex viu as encomendas caírem quase 30% e não espera melhoras. "Nós acabamos nos endividando para compensar as perdas no fluxo de caixa. Agora, a perspectiva não é de melhora", afirma Kayayan.
Diário Comercio Indústria & Serviços - 13/10/2014
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