Friday, March 20, 2020

Com shoppings fechados, lojistas veem colapso do varejo e pedem perdão de aluguel

A determinação de fechamento de shopping centers em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre, e o funcionamento em horário reduzido nas demais cidades, como forma de conter a propagação do coronavírus pelo País, agravou a tensão entre os lojistas e as donas dos empreendimentos. A Associação Brasileira dos Lojistas Satélites (Ablos) declarou que teme um “grande colapso no comércio varejista, com prejuízos que podem quebrar muitas empresas”, e afirmou que vai pedir “moratória” de dívidas de aluguel, condomínio e taxas operacionais às donas dos empreendimentos. A instituição também quer a isenção dos próximos alugueis nas unidades fechadas e a cobrança de um valor equivalente a um porcentual das vendas onde a operação é parcial, e não um valor fixo, como é hoje. “É hora daqueles que têm ajudarem aqueles que não têm”, disse Tito Bessa Júnior, presidente da Ablos e fundador da rede de moda masculina TNG. Bessa Júnior afirmou que a situação do País está pior do que o imaginado no começo da semana. A avaliação é parecida à da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop). “Estamos vivendo uma situação extremamente delicada. É uma economia de guerra. A prioridade do País é preservar a saúde, mas isso se choca com o andamento da economia”, afirmou o diretor institucional, Luis Augusto Idelfonso. A Alshop propôs às donas das redes a postergação do prazo para pagamento do aluguel em função do tempo que as atividades permanecerem suspensas. “Se o shopping ficar fechado por um mês, que a cobrança do aluguel seja adiada por um mês também”, disse. Nos lugares em que o funcionamento será parcial, ele também espera um aluguel proporcional às vendas, em vez de pagar pelo valor cheio. “Os administradores dos shoppings ficaram de analisar nossas propostas. Mas se houver muita rigidez deles, o lojista acaba fechando as portas”, disse. A Ablos representa as lojas de menor porte, entre eles TNG, Barred’s e M. Officer (vestuário), Doctor Feet (serviços), Casa do Pão de Queijo (alimentação) e SideWalk (calçados), enquanto a Alshop tem associados de vários portes, inclusive grandes varejistas, como Habib’s, Pernambucanas, Riachuelo e Polishop. Ao todo, cerca de 55 mil lojistas em mais 500 shoppings são representados pelas duas instituições. Conforme decretos publicados nos últimos dias pelas autoridades púbicas, em São Paulo, a ordem é para manter as portas cerradas até o fim de abril. Em Porto Alegre, são 30 dias, e no Rio, 15 dias. Se a pandemia se agravar, outras cidades tendem a seguir o mesmo caminho. A Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), que engloba as donas dos empreendimentos, foi procurada, mas não se manifestou sobre o assunto até a publicação desta reportagem. A entidade permanece em silêncio desde que foram divulgados decretos mandando os empreendimentos fecharem as portas. Embora sofram com a situação, as donas das redes terão um impacto bem menor com a crise do que os lojistas. Isso acontece porque a maior parte da receita desses grupos vem do aluguel cobrado das varejistas pelo espaço que ocupam. Também há ganhos com estacionamento, publicidade e luvas (comercialização do ponto) e, mais recentemente, comércio eletrônico. Por sua vez, o faturamento dos lojistas vem unicamente das vendas físicas e online, embora os canais eletrônicos não sejam uma realidade para todas as marcas. O analista de shoppings do Citi, André Mazini, diz que as donas das maiores redes do País – BRMalls, Iguatemi, Multiplan e Aliansce Sonae – podem perder em torno de 7,4% do seu faturamento anual, caso todas as suas unidades fiquem fechadas por um mês. “Nosso entendimento é que, teoricamente, as empresas ainda poderiam arrendar aluguéis completos, mesmo com um shopping fechado. Entretanto, esperamos que as empresas valorizem seus relacionamentos de longo prazo com os inquilinos e concedam descontos por horas em que os shoppings não estiverem abertos”, afirmou Mazini, em relatório do Citi. Ele disse ainda que as donas de shoppings têm um balanço financeiro resiliente, pois o endividamento está baixo, e a margem operacional é maior que 70%, o que dá maior capacidade de encarar o choque nas atividades provocado pela pandemia.
O Estado de S.Paulo - 19/03/2020
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