Monday, September 21, 2015

Varejo já reduz margens em produtos orgânicos

A crise econômica provocou pelo menos uma notícia que pode ser considerada positiva: comer alimentos orgânicos ficou mais barato. Com as vendas em queda e a substituição por produtos mais em conta, grandes redes varejistas ajustaram sua estratégia comercial para o novo cenário, reduzindo margens e segurando repasses, numa tentativa de garantir o avanço do segmento. Nos últimos anos, as vendas de alimentos considerados saudáveis tiveram expansão de dois dígitos no país.
Alguns grupos de produtos, sobretudo hortifrútis, conseguiram chegar a diferenças mínimas entre um orgânico e o convencional. Caso das folhagens, cujos preços superam em centavos ou, em R$ 1,00, os convencionais. E nos dias de sorte da desova das gôndolas - hortaliças são altamente perecíveis -, as folhagens orgânicas podem custar até mais barato que aquelas borrifadas com produtos químicos.
Na categoria de mercearia, biscoitos e farinhas orgânicos são outros exemplos de margens agora menores. "Já há categorias mais competitivas mesmo em relação a itens importados, como leites e azeites", afirma Daniela Pasquili, gerente de desenvolvimento de vendas do Pão de Açúcar. Segundo ela, isso também é possível devido a acordos comerciais de exclusividade e escala de compra, que permitem espaço para negociações.
O recuo nos preços não significa que ficou barato comprar produtos orgânicos no Brasil. Está apenas menos caro, o que tem o efeito benéfico de manter clientes fiéis em tempos de aperto. Por outro lado, os supermercadistas apostam que a convergência de valores seria também um estímulo para atrair consumidores menos atentos à ingestão de alimentos saudáveis. Mas nem tudo tende à convergência: granolas e sucos orgânicos ainda custam o dobro (ou mais) em várias praças do país.
"Não se trata de uma melhor estruturação da cadeia de produção, que ainda tem sérios gargalos, tampouco de uma escala maior de produção, o que poderia contribuir para reduzir preços. A oferta de matéria-prima orgânica não aumentou. O que está ocorrendo é um rearranjo de estratégias comerciais e redução de margens", diz um consultor, que preferiu não ter o nome divulgado.
Segundo ele, há hoje uma queda nas vendas de produtos orgânicos, ainda que menor se comparada à de outros setores. "Não chega a dois dígitos, ao contrário de outros segmentos da economia, porque, apesar da crise, o consumidor está mais maduro em relação às escolhas de alimentos saudáveis".
Conforme Daniela, do Pão de Açúcar, o grupo mantém a meta de crescer 20% no segmento, dez pontos percentuais a menos que o resultado de 2014. No primeiro trimestre, a categoria cresceu apenas 3%.
No caso do Walmart, o segmento de orgânicos só não sofreu prejuízos em 2015 porque praticamente não tinha um portfólio desenvolvido, ou seja, a base de comparação era baixíssima. No último ano, o Walmart investiu em troca de equipamentos, como gôndolas modulares e refrigeradas, dando mais visibilidade aos produtos. Com isso, vendeu mais. "No nosso caso, o setor de orgânicos cresceu três vezes mais que as demais categorias em 2014", afirma Luciano Nunes, diretor comercial de hortifruti do Walmart. A expectativa é de crescimento da ordem de 5% para o setor em 2015.
A decisão de reduzir margens decorre da percepção do varejo de que a tendência a uma alimentação saudável não é passageira. Ao contrário, está se consolidando. A exemplo de países desenvolvidos, o consumidor brasileiro também passou a ler com atenção as embalagens do que compra.
Em geral, a categoria de produtos saudáveis ajuda a puxar o desempenho de orgânicos. Nesse grupo, estão os integrais, sem glúten, sem corantes e diet, entre outros. Uma pesquisa da Associação Paulista de Supermercados (Apas) mostra alta de 1,5% nas vendas de mercearias doces (como biscoitos) e de 3% nas salgadas (arroz, massas, etc) em 2014. Quando esses mesmos itens são "saudáveis", os ganhos foram ainda maiores: 3% no segmento doce e 13% no salgado. "Saúde se tornou preocupação maior que educação no Brasil", diz Rodrigo Mariano, chefe do Departamento de Economia da Apas.
Valor Economico
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