Tuesday, September 22, 2015

Dólar alto leva importadores a repensarem o abastecimento

A valorização acelerada do dólar, que em 12 meses subiu 85%, levou as importadoras a repensarem a forma de abastecimento. Entre as iniciativas está a redução no volume pedido nos processos de importação, agregar as vendas de produtos a serviços, além da substituição dos fornecedores estrangeiros por locais.
Mas, como a indústria nacional não está preparada para atender toda a demanda e não consegue ser competitiva na precificação pelo alto custo Brasil, outra forma de manter a rentabilidade das operações está na compra de peças de fora e montagem feita no País. "Com a indústria de montagem própria conseguimos um ganho de 25%, mesmo com o dólar alto", diz ao DCI o diretor técnico da Basall (importadora de aparelhos estéticos e médicos de uso doméstico), Maurício Farah.
O executivo afirmou que a alta do dólar os pegou de surpresa, já que a empresa utiliza o Financiamento à importação (Fininp) para a compra de alguns itens. "Quando contratamos o Fininp o dólar estava em R$ 2,2. Agora vamos começar a pagar esse financiamento com o dólar cotado a R$ 4", explicou. Farah afirmou que esse tipo de modalidade de obtenção de crédito ajuda as importadoras, mas em momentos de instabilidade da moeda estrangeira ele traz certos prejuízos. "Quem só importa por Fininp terá dificuldades este ano e em 2016 devido a alta muito rápida da moeda", disse.
A empresa, que atua com importação há quatro anos, negociou compras com a moeda norte-americana a R$ 1,9 e, de lá para cá precisou, mais do que administrar os preços em períodos como este, negociar de forma agressiva com os varejistas. "Estamos nos grandes magazines e eles têm nos pressionado para ampliar o prazo de pagamento. A choradeira está bem evidente e há casos em que eles nos pressionam deixando faltar produtos nas lojas", diz o executivo, mencionando a negociação com o Pontofrio, do Grupo Pão de Açúcar. "Eles sabem que o produto vende, então pressionam muito, em especial os prazos de pagamento", disse Farah. E completou: "Eles estão nos pagando há seis meses".
Consumo em baixa
Adaptar-se aos novos hábitos do consumidor também é estratégia para quem tem operação atrelada a moeda estrangeira. "Nossas lojas estão em shoppings e vemos os corredores cheios, mas as lojas sempre vazias. Quando entra um cliente, mais do que verificar preço, ele se preocupa em não fazer dívidas de longo prazo como as parceladas", explicou o sócio diretor da rede de franquias Nexar, Airton Joaquim.
Por atuar com eletroeletrônicos, a Nexar também sente dificuldade em encontrar fornecedores locais, logo, uma das alternativas neste período de instabilidade está na redução do volume comprado, evitando assim, estoques altos para o início de 2016. "Vamos reduzir o volume de importação. Isso trará um pouco mais de segurança, ainda mais que não estamos tão otimistas com o final do ano".
Joaquim afirmou que o impacto do dólar será maior nos próximos três meses, uma vez que seus fornecedores estão desovando produtos comprados com o câmbio mais baixo. "Eles estão com muitos estoques, agora com a reposição é que vamos sentir o peso do dólar."
Outra estratégia que a Nexar implementará em breve será a ampliação dos serviços prestados de manutenção. "Já fazemos alguns consertos de computadores nas lojas. A ideia é ainda esse ano ampliar isso para smartphones", disse. A Nexar já estrutura a compra de kits (importados) para a substituição de telas, com o conceito faça 'você mesmo'. "Nos Estados Unidos isso é muito comum. Aqui no Brasil não e com esse kit o consumidor pode arriscar arrumar sozinho ou nos pagar um valor a mais para arrumar o aparelho", explicou Joaquim.
Alimentos
O segmento alimentar não está imune a volatilidade da moeda estrangeira. Segundo o diretor-geral da La Violetera, Felix Boeing Junior, a instabilidade do câmbio faz com que o repasse de custos seja gradual. "Aumentamos os preços entre 5% e 10% ao longo dos meses, pois não conseguimos ser tão rápidos quanto a volatilidade da moeda", explicou.
Outra iniciativa da importadora foi buscar novos países para a compra de algumas categorias. "No ano passado compramos azeitona da Espanha, este ano a compra vem da Argentina, país em que a safra foi muito boa e o preço apresentou queda", disse, lembrando que, do país vizinho, também veio uva passa e pistache.
Segundo Boeing Junior há certos itens, como o damasco, por exemplo, que não existe a possibilidade de substituição. "O damasco importamos da Turquia, não há outro local com a mesma qualidade", enfatizou. Mesmo com todas as iniciativas, esse ano será de redução do volume comercializado. "Importamos menos e devido a instabilidade que a crise econômica provoca no País a nossa rentabilidade também será menor, cerca de 2%", disse ele. O faturamento previsto é de R$ 300 milhões e virá condicionado ao aumento dos preços dos importados e não de vendas maiores. "Até junho crescemos 15% em volume e 17% em valor, mas passado isso passamos a sentir de forma mais efetiva", disse Boeing Junior, que finalizou: "Esperamos mais um ano com o dólar em alta e economia desacelerada no Brasil."
DCI
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