Friday, October 10, 2014

BMW inicia produção no Brasil

A BMW abriu oficialmente ontem as portas de sua fábrica de carros premium no norte de Santa Catarina em evento marcado por um momento de provocação - quando um diretor do grupo lembrou as autoridades presentes da saga burocrática enfrentada pelo empreendimento - e discursos de ministros do governo federal que, ao celebrarem a "transformação social" do país nos últimos anos, deram tom eleitoral à cerimônia.
Executivos da montadora alemã também aproveitaram o evento para reforçar expectativas de crescimento do mercado brasileiro, porém em ritmo mais moderado nos próximos anos, e falaram pela primeira vez da possibilidade de transformar o Brasil em plataforma de exportação do grupo, embora num futuro distante.
Os investimentos da BMW para produzir em Araquari, cidade a cerca de 20 quilômetros de Joinville, passam de R$ 600 milhões, preveem a criação de 1,3 mil empregos - entre vagas criadas somente na montadora até 2016 - e injetam na já ociosa indústria automobilística brasileira capacidade instalada de 32 mil carros por ano.
A produção em escala comercial já tinha começado no dia 30 de setembro, com o sedã da Série 3 equipado com motor bicombustível, a tecnologia de propulsão dominante no Brasil. No mês que vem um utilitário esportivo, o X1, soma-se à linha, que até o fim do ano que vem também terá a companhia de outros três modelos: um hatch da Série 1, o X3 (outro utilitário esportivo) e, por último, o Mini Cooper, na versão Countryman.
Ao falar sobre o desafio de instalar no Brasil a primeira linha de produção de carros da BMW na América do Sul, o vice-presidente do grupo responsável pela fábrica, Gerald Degen, exibiu a uma plateia formada por autoridades públicas, funcionários, concessionários e jornalistas um slide com toda a papelada de licenças pelas quais o empreendimento teve de passar para abrir as portas ontem. No total, o projeto foi submetido a cerca de 150 diferentes tipos de licenciamentos por órgãos como Funai, Ibama e ANTT.
A "alfinetada" do executivo alemão arrancou algumas expressões de espanto, mas teve uma pronta resposta do ministro do Trabalho, Manoel Dias. "No Ministério do Trabalho, 90% desses documentos não existirão mais até o fim do ano porque eles estão sendo digitalizados", disse o chefe da pasta quando teve a oportunidade de discursar.
Apesar da cerimônia de inauguração, o parque industrial da BMW ainda vai demorar mais um ano para ser concluído. Os setores de pintura e de armação das carrocerias só devem ficar prontos em setembro de 2015. Por enquanto, só a linha de montagem está em funcionamento, abastecida por carrocerias da Alemanha e autopeças importadas da rede internacional de fornecedores da multinacional.
O nível de nacionalização dos carros é baixo. No Série 3, nem o pneu é nacional. As exceções são os assentos do automóvel e uma peça ou outra dos sistemas de suspensão, propulsão e transmissão fornecida por fabricantes locais.
Arturo Piñeiro, presidente da montadora no Brasil, garantiu, porém, que a fábrica vai atender às exigências de nacionalização colocadas do novo regime automotivo, mais flexíveis a marcas premium como a BMW, dado o maior nível de tecnologias empregadas nesses carros sem produção nacional.
O executivo adiantou que exportar automóveis a partir de Santa Catarina também está nos planos, a depender da competitividade da nova fábrica. Mas é um projeto de longo prazo porque a montadora, entre outros pontos, terá de atingir níveis mínimos de peças regionais para ter direito ao acesso a mercados de parceiros comerciais do Brasil, como o Mercosul. "Exportar vai depender da economia e da velocidade em que conseguirmos avançar na nacionalização dos carros. Até 2018 ou 2020, nossa vocação será produzir ao mercado brasileiro", comentou Piñeiro.
O presidente da BMW disse a jornalistas que o consumo de carros de luxo perdeu ritmo nos últimos meses em decorrência das incertezas sobre os rumos da economia, agravadas pelos período eleitoral. Cautelosos na hora de adquirir veículos que custam mais de R$ 100 mil, os clientes estão adiando a decisão de compra, disse o executivo, que voltou a afirmar, no entanto, que os preços dos carros da BMW não caem com a produção local. Ele acredita que o mercado premium no Brasil pode levar mais tempo para dobrar de tamanho e alcançar a marca de 100 mil carros, antes prevista para 2018.
De um volume que há quatro anos não passava das 3 mil unidades, o grupo BMW, incluindo a marca Mini, fechou 2013 com vendas de 17,5 mil carros e espera superar o patamar de 18 mil automóveis em 2014.
Ao participar da cerimônia de inauguração da fábrica, a ministra Ideli Salvatti, de Direitos Humanos, viu nos números a "prova inequívoca" de que o governo promoveu a inclusão social, sem se esquecer de dar condições de desenvolvimento a todas as classes sociais, o que inclui as mais abastadas que consomem carros da marca germânica. "Empresas como a BMW não investem em um país à beira do colapso", disse. Mauro Borges, ministro do Desenvolvimento, concordou. "Somos um país de grandes transformações sociais e também um país de futuro".
O repórter viajou a convite da BMW
Valor Econômico - 10/10/2014
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